18/05/08

o tempo que resta

Viver cada momento como se fosse o último. É assim o filme, é assim como vemos o filme e é assim que a personagem Romain (Melvil Poupaud) encara a sua situação depois de saber que vai morrer, em breve. E quer despedir-se, em silêncio, das pessoas, daquilo que o rodeia. Escolhe uma única pessoa para apresentar a sua condição, sua avó (Jeanne Moreau), também ela próxima, pela idade, pelo pouco tempo que resta a ambos.
E o que fazemos quando nos resta assim pouco tempo? Para outras coisas, para nos despedirmos de uma vida inteira, de afectos, de objectos, de pessoas, para nos encararmos, agora, sós, para descobrirmos, finalmente, o que queremos e o que já não queremos mais? Como no filme, a única possibilidade é descobrir uma forma de nos descobrirmos, não de nos redimirmos de quaisquer maldades cometidas, de quaisquer erros anteriores, mas antes avançarmos para não cairmos nos mesmos equívocos, principalmente para não procurarmos mais atalhos mas trilhos bem firmes. Melvil Poupaud e Jeanne Moreau, os dois actores, são extraordinários, quando estão os dois, em casa da avó, a questionarem-se, pelo porquê de ali estarem e não com outras pessoas, a revelarem as suas mais profundas inquietações: o pouco tempo que resta, a ambos, mais a ele. E choram, ambos, por terem percebido que são iguais, que partilham do mesmo, que estão ambos na mesma posição, e que são e estão mais próximos do que com outro alguém qualquer ou do que alguma vez já estiveram. Por isso os dois, ali, e por isso choram, um perante o outro. E, por isso, atingem aqui ambos o seu estado mais puro - abrindo tudo e não escondendo nada.
Le Temps qui reste, François Ozon, 2005

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