Há momentos em que apetece rever filmes que nos deram, dão, grande prazer, oferecê-los aos amigos, escrever sobre eles, pensar sobre eles, aprender com eles. E é isso que tenho andado a fazer, desta vez, com o filme de Spike Lee, traduzido para português, A Última Hora. É um filme arrepiante. É um filme sobre o que cada um de nós tem de melhor, e de pior, porque é que um país, no caso os Estados Unidos da América, uma cidade, no caso Nova Iorque, uma personagem, no caso um “yuppie” e o seu cão, de repente, se encontram à deriva, de repente, caminham na lentidão, de repente, sofrem, de repente, encontram-se completamente desiludidos. As ruas estão quase desertas, há pouca gente, errática, a caminhar para o nada. A cidade caiu no abatimento. As personagens estão frustradas, a música é a de uma missa, triste, a de uma despedida. Estamos perante um estado de abatimento geral. Há duas cenas fulcrais, absolutamente vibrantes: a cena do espelho, com um "fuck you" avassalador, dirigido pela personagem a tudo, a todos, a si próprio como pessoa, principalmente a si próprio (Edward Norton/ Monty Clift: a força e a fragilidade. Combinação perfeita entre o actor – brilhante, e o nome da personagem - vibrante) e a cena em que Spike Lee coloca duas personagens na janela de um arranha céus com vista sobre o Ground Zero, com vista directamente sobre o vazio daquele local, das personagens, questionando aquelas a razão de ainda ali estarem, afirmando, porém, que sempre ali continuarão e que sempre ali vão permanecer. Nada é mais forte do que a nossa própria força. Só nos deixamos atingir se quisermos. Nada alheio a nós nos pode destruir. Só nós. O vazio pode existir mas a força permanece, maior, nem que não se saiba bem para onde e por onde caminhar. No fim do filme permanece o vazio mas há sempre um caminho a seguir e isso depende apenas da nossa vontade, da nossa força.
The 25 Th Hour, Spike Lee, 2003
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