David Cronenberg nunca nos dá respostas nos seus filmes, antes, faz perguntas, levanta questões e faz-nos pensar. Os filmes de David Cronenberg são daqueles que não conseguimos esquecer duas horas depois, muito até muitos anos depois. Ficam nas nossas cabeças, incomodam-nos, entranham-se e nunca mais nos abandonam. Esse é também o caso do seu último filme, Eastern Promises, fabuloso, violento, onde nunca nada é o que parece e onde nunca as personagens são aquilo que inicialmente aparentam ser. É uma espécie de continuação do filme anterior, A History of Violence, ainda com mais cenas de violência, ainda mais explícitas, ainda mais duras, ainda mais gratuitas, ou talvez só não. Quem é o mau, o bom, quem é deveras violento e o que é, ou poderá ser, uma história de amor (histórias de amor que nunca chegam a acontecer - como dois comboios que se cruzam em linhas diferentes e logo se afastam pois cada um tem se seguir o seu próprio destino)? Há vários actores excepcionais, escusem os outros, mas neste filme há três que admiro especialmente e que quero e preciso destacar: Naomi Watts é absolutamente credível na sua personagem de parteira, num hospital de Londres, uma inglesa com ascendência russa e enraizada nos hábitos locais. Separou-se de um negro (“não é bom a mistura de raças” – diz-lhe o tio) e cruza-se agora com a máfia russa, conhecendo-os, lentamente, ao longo do filme e apercebendo-se que está a penetrar em águas muito turvas. Viggo Mortensen é como as tatuagens que usa no seu corpo: visceral, profundo, entranhado na máfia russa e, surpresa, ou não, embatendo precisamente do lado contrário. Vincent Cassel é o filho do Rei, o filho da máfia russa, repelente, brutal, terrível, a besta. Nas últimas sequências (e porque nunca nada é o que parece) transforma-se num ser angelical e incapaz de cometer a bestialidade que o Rei lhe pediu (quando já havia cometido tantas outras). Afinal é um homem sensível e não assim tão perverso. As personagens de Naomi Watts e Vincent Cassel atraídas pelo mesmo homem: Viggo Mortensen. Enigmático triângulo! Nunca nada é o que parece, as respostas ficam no ar, o amor é uma coisa muito estranha, as pessoas nunca são só boas, ou só más, ou só violentas, ou só bondosas. Ou serão? Seremos o quê, neste mundo de violência? Serão os outros quem, neste mundo de aparência? Há filmes que nunca nos deixam indiferentes. Há cineastas que nos comovem sempre. David Cronenberg é daquelas criaturas que não se cansam de surpreender. Genial. Aplausos.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário