18/05/08

representação

A imagem é uma coisa extraordinária, ambivalente, perigosa, ambígua. A imagem persegue-nos, seduz-nos, repugna-nos, deixa-nos em estado de alerta, sempre. Ou nos queixamos porque gostamos, de nós, dos outros, ou porque não gostamos, ou porque exigem de nós aquilo que acham que devemos ser e não aquilo que realmente somos, quase nunca a autenticidade. A imagem sempre perseguiu os meus caminhos, acho que os de todos, a vários níveis, não só os visíveis. A imagem condiciona a nossa conduta, a nossa interacção com os outros, por mais que cogitemos que não, por mais que depreciemos essa questão. Parece absurdo associar uma imagem, a física, a uma conduta, à personalidade, à inteligência, ou seja ao que for, para aquela determinada pessoa. O facto é que temos tendência para o fazer, para julgar, de acordo com uma determinada aparência, sem mais. Seria incapaz de vender a minha imagem, boa ou má, é minha, não é negociável, não pode ser objecto de qualquer negociação. Contudo, essa mesma imagem inegociável é posta à prova todos os dias, condiciona o trabalho, a vida, parece vendável a todo o tempo. Apesar de tudo, não devo, não quero, entre singulares e plurais, vender uma coisa que não tem preço. Eu, tu, todos, somos nós, agradamos a nós, se aos outros melhor, caso contrário – não! Obviamente, quem vende a imagem não é objecto, para mim, de qualquer preconceito, de qualquer juízo de valor adverso, faz quem quer, porque quer, nada a ver com isso. Eu não; pelo menos, de forma óbvia, de forma directa – estou aqui, quero que vejam, sou eu, elejam. Não. Não, também não sou assim tão ingénuo que não perceba que há quem o faça, porque tem de o fazer, porque determinadas opções de vida obrigam a tal. Nada contra, mas nada para mim, só para esses. E as opções são como as razões. Optamos porque queremos; opinamos porque achamos. Assim, vendemos o que queremos, não negociamos o que para nós é inegociável.

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