18/05/08

Martha Freud

Martha Freud silenciou a sua existência perante os outros, na sua época, no seu próprio mundo, perante os filhos, muito mais pelo marido Sigmund Freud. Aparentemente, pelo que sai do romance de Nicolle Rossen, e outras fontes, Marta Freud renunciou a quase tudo, a si mesma, às suas convicções, às suas crenças religiosas (cresceu numa família judaica), à sua capacidade intelectual (seria uma mulher culta e com vários interesses), ao debate com o próprio marido sobre o que ele ia descobrindo – quando aquele mesmo revolucionava a definição de natureza humana (nascia a psicanálise). Porque é que o marido a entorpeceu para tamanho segundo plano quando poderia ter sido ela a sua melhor interlocutora na sua genialidade, em tudo o que ele viria a revolucionar? Porque é que Sigmund Freud a esqueceu, estando ela sempre presente? E porque é que a própria Martha Freud se deixou levar naquele silêncio, naquela submissão, naquele mutismo? E seria Sigmund Freud assim, como é revelado no romance, obsessivo, frio, distante, de um extremo egoísmo? Como seria a sua própria sexualidade? A abstinência como método contraceptivo após o nascimento do seu sexto filho? Só? E a atracção que Sigmund Freud devotou a alguns dos seus discípulos seria só intelectual, de partilha do seu próprio saber com eles (nunca o contrário)? O que resultou de tudo isto, em Martha Freud, pelo romance, foi a de um profundo alívio após a morte de Sigmund Freud e de um emergir nela de sentimentos de profundo ódio pelo que foi a sua vida e pelo próprio marido. O que foi um noivado apaixonante e cheio de cartas de amor (por parte de Sigmund Freud) revelou-se num casamento de fachada e numa vida pessoal inexistente – para ambos.

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