28/09/09

They Shoot Horses, Don't They?

Durante a Grande Depressão, nos anos 30, nos Estados Unidos da América, a maioria da população vivia mal, no desemprego, na miséria, em instabilidade total. Corrupção, crime, e tanto mais. Nessa época, entre outras "oportunidades", apareceram os concursos de dança que testavam até ao extremo a resistência dos participantes e que, perante uma audiência ansiosa pela desgraça alheia, procuravam humilhar o mais possível esses mesmos participantes. Em 1969, Sydney Pollack realizou o filme "They Shoot Horses, Don´t They?", baseado no romance homónimo de Horace MacCoy. É uma história cruel. Tudo gira à volta de uma maratona de dança onde os pares dançam numa competição maluca de forma a ganhar o prémio final. Ou só uns míseros dinheiros. Curioso perceber a actualidade do filme, do tema, nos dias de hoje. Curioso perceber que o mesmo tipo de concursos proliferam nas nossas televisões. Curioso perceber que ainda hoje se vive assim. Todos preferem os idiotas. As audiências aumentam. A população tem orgasmos. Viu-se ontem, em dia de eleições. Portugal continua com o primeiro-ministro que não merece. O povo português elegeu-o. E em bis. Mas não estamos a falar de um Cavalo num caso destes. O Cavalo é um animal portentoso. O nosso primeiro-ministro parece-me apenas um patrocinador de um concurso daqueles.

25/09/09

Morangos Silvestres



Ingrid Thulin e Victor Sjöström no filme “Morangos Silvestres”, 1957, Ingmar Bergman. Uma obra-prima absoluta. A nossa vida existe, nos seu sentido pleno, seremos verdadeiros, apesar de todas as nossas incoerências? Se reflectirmos , se ponderarmos, se tomarmos consciência da nossa própria existência, os outros serão tão melhores connosco como nós com eles. A complexidade transporta-nos para a simplicidade. O inverso não.

24/09/09

histriões

Inteligência emocional é um conjunto específico de aptidões utilizadas no processamento e conhecimento das informações relacionadas à emoção. Na história da psicologia moderna o termo “inteligência emocional” expressa um estágio na evolução do pensamento humano: a capacidade de sentir, entender, controlar e modificar o estado emocional próprio ou de outra pessoa de forma organizada.

Inteligência social é uma habilidade de perceber estados internos, motivações e comportamentos de si próprio e dos outros e de agir de acordo com essa percepção.

Ora, na maioria das vezes, no nosso dia-a-dia, encontramos pessoas destituídas dessas formas de inteligência, no sentido básico em que são definidas na psicologia moderna, neste contexto também pouco interessa, já só digo no sentido básico do bom-senso. Quando num almoço de rotina encontramos um desconhecido, que se senta na nossa mesa, altera a base da conversa, só fala nele (repito, uma pessoa desconhecida embora conhecida da outra pessoa que almoçava na mesa) e no fim nos deseja “Boa Sorte”, apetece perguntar e responder:

1. Boa sorte para … ?
2. Alguém pediu a sua opinião … ?
3. Não lhe ocorreu mais nada para dizer?
4. Porque não dizer apenas “até à próxima, gosto”!
5. Olhe, boa sorte para o raio que o parta que eu já estou mesmo de saída pois não estou para aturar cromos. E "continuação" e "tudo de bom" para si também.

O pior, e se vazássemos todas estas respostas, também nós estaríamos destituídos daquelas formas de inteligência, ainda com a agravante de que seríamos apelidados de arrogantes, malcriados e filhos da puta. Afinal, tão difícil encontrar pessoas curiosas. Bom, estas coisas acontecem a todos mas eu não me apetece muito aturar histriões na minha única hora de descanso do dia. Serei anti-social?
(Nota: os termos "continuação" e "tudo de bom" são dedicados a uma amiga do peito. Estou contigo!)

22/09/09

Lágrimas e Suspiros

Belíssimo! Tristeza, morte, solidão, ausência, desespero, vazio, resistência à partilha de sentimentos, almas dilaceradas de todas as personagens mulheres. Um experiência arrebatadora. "Lágrimas e Suspiros"?! Acho que só nos filmes, ou seja, em permanência na vida real não é poético. É patético. Tantas incongruências, estas, as da vida real. Tantas emoções, estas, as de um filme como este. A morte pode transformar-se num poema?

Lágrimas e Suspiros, 1972

Ingmar Bergman

16/09/09

Singularidades de uma Rapariga Loura

"Singularidades de uma Rapariga Loura" é baseado num conto homónimo de Eça de Queirós. A base são singularidades. Singularidades da loura, pensamos em singularidades dos outros, nas nossas, muitas vezes a aparência revela muito pouco. A história centra-se em Macário, que se apaixona por Luísa Vilaça, com quem quer casar, até que descobre uma singularidade da sua pura noiva. O filme é sobre o reconhecimento, a passagem do ignorar ao conhecer, a decisão consciente dessa passagem quanto a uma tomada de decisão. Macário vê demoradamente a loura, apaixona-se pela aparência, propõe casamento, conhece a singularidade em causa e decide. O reconhecimento é importante, a passagem do ignorância ao conhecimento é inevitável. A tentativa de compreender a natureza do ser humano. A nossa própria natureza. Manoel de Oliveira é um centenário. A idade dará saber.

Singularidades de uma Rapariga Loura, 2009

Manoel de Oliveira

15/09/09

A morte de Bunny Munro



" estou fodido"

Bom perceber que não somos os únicos. Relativizar, sempre. Entre risos, gargalhadas, horror, fascínio, e outras coisas mais ... assim vai correndo a leitura. "Yes!", gosto de gente assim.

A morte de Bunny Munro

Nick Cave

14/09/09

Cat People




Gosto desta música. Muito. Cat people, nunca sem garras!


E com olhar fatal, sempre!


Então ... e se for a Nastassja Kinski!


Ou aquela, e eu tenho esse olhar comigo.

11/09/09

07/09/09

Saraband



Ao ler uma entrevista de Woody Allen esta semana na Revista Única, quando ele refere que “falta glória na minha vida” e acrescenta que nunca fez filmes como Ingmar Bergman, apeteceu-me ver "Saraband", guardado há dois ou três anos nos filmes que compro e que ainda não vi. E fi-lo, ontem à tarde, num domingo à tarde, perfeito para ver um filme como este, estrutura perfeita, desespero, suavidade e densidade, simplicidade e complexidade, tudo em completa união, tudo o que eu precisava de ver. O momento certo. O dia certo. O filme mais-do-que-perfeito. "Um concerto para uma orquestra sinfónica, com quatro solistas", os quatro magníficos actores do filme e Ingmar Bergman. Ingmar Bergman é um realizador não passível de classificação. É um espírito não susceptível de rótulos. É um dos melhores do mundo. Como diz Liv Ullmann: "filmes e pessoas não envelhecem da mesma maneira." E se Ingmar Bergman morreu os filmes não morreram, não envelhecem, são "Morangos Silvestres" ao alcance de tantos e de tão poucos. "Saraband" (2003) será uma "espécie" de continuação de "Cenas da Vida Conjugal" (1973). O filme inicia-se com a personagem de Liv Ullmann a ordenar fotografias e é ela que desencadeia a narração ao decidir, trinta anos depois de ausência, visitar o seu velho ex-marido, que vive numa casa isolada, longínqua, com uma belíssima vista, rodeado de livros, música e filosofia. Ao chegar, depara-se com os problemas daquele velho, do filho do velho que também já é velho, e da jovem e bela neta do velho que não quer ser velha tão nova que ainda é. As personagens estão à beira do abismo, o velho já é muito velho, o filho do velho pode morrer se a sua filha avançar com a sua vida, a filha não sabe o que fazer. Há ainda presente a fotografia da falecida mulher, mãe e nora, ausente mas tão presente e tão amada pelos três. Há, também, a filha doente e internada num hospital psiquátrico de Liv Ullmann (Marianne) e Erland Josephson (Johan). Os rostos, as bocas, os olhos, as expressões das personagens, tudo é filmado com uma simplicidade e complexidade surpreendentes. Belíssimos primeiros planos, belíssimas aproximações da câmara aos rostos das personagens. A música, o silêncio, a expiação de todos os deles nossos pecados. Liv Ullmann mantêm-se o mais neutra possível no meio de tantos conflitos interiores, de tanta angústia, de tanto sofrimento, ao mesmo tempo no meio de tanta pureza no meio do ódio que as outras personagens sentem umas pelas outras. O pai pelo filho. O filho pelo pai. A filha pelo pai. São tantos os andamentos, os compassos, que ficamos trémulos, ocos, vazios, como se a angustia fosse toda sair das nossas entranhas. Como nas personagens. O despojamento total quando Erland Josephson surge no quarto de Liv Ullmann, despe-se, pede-lhe para se despir, e ambos, nus, deitam-se na cama. O silêncio. A angústia extrema. Ingmar Bergman filma a essência humana de forma profunda, acho que como ninguém. Captamos a alma das personagens e sentimo-nos como elas. Sim, bem mais Bergman do que Almodóvar. Sim, bem mais cinema do que teatro. Enfim, perante uma obra destas ficamos sempre dilacerados, tristes, mas tão visceralmente preenchidos. É o bastante. O tão bastante que nos deixa engrandecidos.

Entretanto leio “Filhos de Domingo”. Ingmar Bergman a escrever sobre ele próprio, recuando aos seus oito anos, na relação conflituosa que manteve com o pai e toda a sua envolvente familiar. Ainda, quero ver/rever filmes de Ingmar Bergman. Já os tenho, pelo menos doze bem à mão.

Saraband, 2003