16/05/08

coração selvagem

O mundo tem um coração selvagem e é um lugar tão estranho. Lula (Laura Dern) ama Sailor (Nicolas Cage) e este amor é um dos mais bonitos, dos mais cáusticos, dos mais selvagens, alguma vez filmado em cinema, realizado por David Lynch, em Wild at Heart. Sailor, no fim do filme, quando encontra a Fada Boa, diz que não pode regressar a Lula pois tem o coração selvagem, é um ladrão, um homicida, e por isso não a pode amar. A Fada Boa diz-lhe que não, para não ter medo do amor, para não fugir do amor. Sailor corre então para Lula e canta-lhe Love me Tender – a canção que prometeu cantar à mulher que escolhesse para si. O mundo é um lugar estranho e tem um coração selvagem. A mãe de Lula (Diane Ladd), a Fada Má, impede, a todo o custo, o amor entre Lula e Sailor. E persegue-os, maltrata-os, por todos os motivos, também porque é má, porque tem um coração selvagem, porque fez coisas más, e acha que Sailor sabe, numa luta do mal contra o mal. O conto de fadas acaba bem, acaba com o Love me Tender. Este é um dos mais belos filmes de amor de todos os tempos. O amor entre Lula e Sailor é extraordinário, não é preciso ter medo do amor, em qualquer circunstância e por nenhum motivo. Como é belo cantar o Love me Tender a alguém que se escolhe e que nos escolhe também. Eu sou, e sempre serei, como o Sailor. Não gosto de pessoas que não tenham coragem de assumir aquilo que sentem e que se refugiam nas aparências. O mundo tem um coração selvagem e é mesmo um lugar estranho.
Wild at Heart, David Lynch, 1990

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