17/05/08

fogo que arde sem se ver

Estou embriagado. Sim, outra vez. Eu sou dos copos, os das emoções, a agitação invade todos os dias a minha vida, graças a Deus. Se calhar também faço por isso. Ando sempre a mil, as coisas acontecem, nunca estagnam, nunca são iguais. A rotina não faz parte da minha vida, se fizesse acho que já tinha morrido. E se não morresse mudava de vida, emigrava, fazia por mudar, não pararia. Se não conseguisse, aí morria! Há pessoas que acompanham esta viagem, que fazem parte dela, que ajudam a que a minha vida seja irrequieta, que seja sempre uma descoberta, que seja sempre uma aventura. Há o B., esse é sempre o meu bálsamo, o meu conforto, o meu grande amor. Há a R., sempre presente, entranhada como nunca, na minha cabeça, no meu espírito, na minha existência. Estou sempre para ela, com ela, por ela, em qualquer circunstância, em qualquer ocasião. Há os amigos, que eu não prescindo, que estão comigo, que gostam de mim, eu deles, sem estar e estando sempre. Há, ainda, um fogo que arde sem se ver, em permanente ebulição, como no soneto.



Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Luís de Camões

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