30/11/08

Surveillance

Numa cidade, à procura da descoberta de perigosos e brutais assassinos, dois agentes do F.B.I., três testemunhas do massacre, cada uma com uma versão diferente dos factos, todas dizem verdade (as suas), ou mentira (as delas), para quem assistiu, todas julgam saber, ou não. Talvez. A versão de cada uma das testemunhas vai sendo apresentada ao longo dos seus interrogatórios numa perspectiva interessante e original nas cenas mostradas em flashback. Apesar de se sentir a presença de David Lynch o filme avança em direcções diferentes, brinca com o próprio argumento, ironiza com os clichés habitualmente existentes neste tipo de filme (thriller). Nunca cai no habitual, sempre interessante. O resultado é uma paródia ao próprio filme e às próprias personagens. Desconcertante, audaz, apesar de tudo algo previsível mas que merece a pena ver. Thriller? Sátira? Humor Negro? Comédia alucinante? Filme de terror? Um filme romântico? Tudo junto? Perverso sim, não fosse a realizadora ser filha de quem é.


Surveillance, 2008
Jennifer Chambers Lynch

28/11/08

cartão de apresentação

Criar um cartão de apresentação com fotografia parece ser o último grito nesta matéria. Agora, se com uma fotografia do próprio já é estranho..., recorrer a uma fotografia de terceiro parece-me (no mínimo) bizarro. Estou mesmo a imaginar a cena com tipas muito tipas que decidem contratar o tipo do cartão, ou a empresa do cartão, ou os serviços oferecidos, ou o raio.
-Eh pá, o gajo é giro, bora chamá-lo.
-Eh pá, então fomos chamar o gajo e o gajo não é o da foto, fónix, vá mazé dar uma volta que eu já venho!
-Eu sou só o dono da empresa, que é como quem diz, eu sou o presidente da minha junta, desculpem, mas eu até paguei ao gajo e agora mandam-me a mim embora?! Não é justo, eu não tenho culpa, caraças. Olhe que a empresa presta óptimos serviços; se quiserem até chamo o gajo, se é ele que vende. Eu faço o que for preciso. Fónix.
No meio desta grande pirosice o pior de tudo é que a estratégia de marketing não podia ser pior. Anda tudo pirado da cabeça. Fónix! Foda-se mesmo. Eu se calhar sou ainda pior, tenho a foto ali ao lado. Ah, serei eu ou o Jorge Gabriel? Não vejo jeitos. O da televisão é muito mais convocado. Bora, ó Jorge, quer escrever no blogue? Você até sabes umas merdas de futebol, eu não percebo um caralho dessa matéria, sempre havia mais visitas, o futebol é o ópio do povo, aquelas frases de merda que se dizem, sei lá. O blogue é novo, precisa de publicidade, enfim, bela negociata. É pegar ou largar!

27/11/08

...

Bom, descobri isto agora. Nem sei como, mas que já me ri, lá isso. Há gajos com sentido de humor, ainda bem, é tudo tão marasmo.

claro, nem tudo vale a pena !

A desilusão é triste. A desilusão quando surge, assim, de repente, sem contarmos, é muito triste. A desilusão sobre alguém, ou sobre alguma coisa, deixa-nos tristes pois tudo o que passou para trás parece um deserto, um vazio, um descontentamento mesmo descontente. O que vale é que mais aparecem gratas surpresas do que amargas desilusões. Quanto a nós, as desilusões que vamos provocando a terceiros podem ser irremediáveis. Sobretudo, se a desilusão é mútua. Sobretudo, se uma das partes já não está disposta a ouvir. E há coisas para as quais já não há paciência. E há outras, apesar dos pesares, que valem sempre a pena e onde a paciência vai permanecendo e nem queremos que vá.
Por falar em desilusão ...
E quando alguém, uma pessoa, nos dá cada vez mais motivo de rejubilo? A felicidade é plena, nem vale a pena pensar em desilusões. Passou. Passa sempre. Assim como o contrário, permanece. E é por aqui que a nossa felicidade vai sendo construída.

26/11/08

Bom dia, Vietnam

Os muros são, muitas vezes, difíceis de transpor. Os muros criam barreiras, sublinham a clivagem entre dois lados. A maioria, parece-me, está do lado errado do seu muro. Está do lado de fora, do lado oposto ao que seria mais sadio estar. Digo eu, pouco importará o muro dos outros. Acho que vamos tendo aquilo que merecemos, as nossas opções diárias vão-nos empurrando para dentro ou fora do muro que nos está destinado. E eu estou cansado de pessoas inúteis, estou-me a tornar repetitivo. E eu estou cansado de pessoas que nos incutem (aquelas que opinam em demasia, directamente, a nós, sobre a nossa vida, sobre a nossa pessoa, credo, ámen , mas longe) para o lado errado do muro, estou-me a tornar repetitivo. Claro, Mea Culpa! E estou, por outro lado, muito feliz por ainda estar no lado certo do meu muro. Pelo menos, do lado que eu sei que quero estar. Mas há muros intransponíveis, acabei de saltar por um. Bom dia, antes de mais. BOM DIA, VIETNAM !

24/11/08

observação (in) directa

Estar numa festa onde estão (por acaso) oito ou nove professores, nos tempos que correm, pode já ser considerado uma reunião secreta ou coisa pior. Agora, perceber, pelas conversas que se vão ouvindo, que os professores dos nossos filhos não percebem um caralho de educação é o caos; ou, então, que não saibam distinguir entre faltas seguidas ou interpoladas e a sua diferente valoração jurídica é de rir às gargalhadas; ainda, entre um sem número de outros impropérios, que tenham como principais autores de referência, professores da disciplina de Português, licenciados em literatura, ou línguas, em germânicas, românicas, sei lá, Paulo Coelho, Nicholas Sparks ou o Konsalik é de bradar aos infernos e dizer: eu tenho de controlar a educação do meu filho na tarefa que incumbiria ao professor, socorro! Foda-se, esta coisa está mesmo mal. Torre de Babel. Excepção à regra. Ou regra à excepção? Estarei mesmo eu de que lado do muro? Ah, já caiu, é verdade.

21/11/08

Ingrid Bergman & Roberto Rossellini



Histórias de amor. Cumplicidades. Pessoas interessantes, atraentes. Construção de muitas coisas. Vidas que valem a pena. O oco não é nada. O vazio esvazia mesmo. Não terá sido o caso. Mesmo que tenha acabado, terá acontecido muita coisa durante. Gente que eu gosto de olhar.

um dia cansativo

Foi um dia feliz, o de ontem.
Cansativo, muito cansativo, para todos, tão cansativo que quase adormecíamos ao jantar (e num restaurante tão "jeitoso").
Porém, um dia feliz. O dia de uma pessoa especial.
Amanhã será outro - outro dia especial para outra pessoa especial.
Os dias sucedem-se a um ritmo alucinante. Estas datas, estes dias, passam sem que haja tempo de os agarrar. Foda-se!

19/11/08

um dia feliz

Há dias que correm bem.
Outros, claro, um desastre.
Passei um dia infeliz, uns dias atrás, cheio de angústia.
Passei um dia feliz, hoje, porque sim, parece que tudo corre sobre rodas.
O dia de amanhã, e os que virão por aí, trarão mais angústias, mais alegrias, sobretudo mais ciência.
É uma sucessão de sensações, impressões, sentimentos e sensibilidade.
Amanhã é dia de aniversário.
O dia de amanhã, para já, daqui a já vinte minutos, será o dia de uma pessoa especial. Espero que seja um dos dias felizes. Será!

17/11/08

Irreversível


Há coisas que mais valem ser analisadas ao contrário.
Imperdível, mas só para quem gosta de emoções muito fortes e sabe sentir o que podemos ser ou naquilo que nos podemos tornar quando nos fazem mal. Não podemos só observar aquilo que parece. Não devemos mesmo só atender às aparências e ao desfecho das coisas.
(Monica, ai Monica)
IrreversívelJustificar completamente/Irréversible
Garpar Noé
França, 2002

16/11/08

O Príncipe, de Maquiavel

E os homens em geral julgam mais pelos olhos que pelas mãos, porque ver é coisa que toca a todos, e sentir a poucos. Todos vêem o que parecemos, poucos sentem o que somos. Porque o vulgo apenas atende às aparências e ao desfecho das coisas.

conhecimento


Sócrates dizia que sua sabedoria era limitada à sua própria ignorância – Só sei que nada sei. Acreditava que os actos errados eram consequência da própria ignorância. Nunca proclamou que era sábio.

quer dizer pois

Neste mundo em que se vive de vãs aparências, faz-nos falta parar, pensar, reflectir, Devemos parar. Devemos pensar. Devemos reflectir. Há coisas que não merecem a pena. Há outras que não devemos deixar escapar. Por mero acaso, numa noite de pura (e profunda) reflexão, a minha consciência, como que por assombro (somos muitas vezes eternas crianças), concluiu perceber que pode ser tarde para, de repente, perdermos tudo aquilo que nos é raro. As pessoas, em geral, assustam-se com o pensamento. Fogem, perdem-se em devaneios, delírios para escapar a uma vida inútil. Para fugir, perdem-se ainda mais. Eu não gostaria de fugir a nada. Se estou onde estou é porque gosto e quero estar. E hoje, seguramente, sei que, neste exacto momento, estou no local certo, com as pessoas certas, com quem eu quero (e escolhi) estar. E é tão bom esse aconchego, a certeza que o nosso abrigo é o local que nós elegemos para o nosso bem-estar. E para os outros basta dar o mesmo, o nosso peito, para que se sintam também aconchegados. Nada se recebe se não existir troca. Isto não é esquisito, esquisito é perceber que a maioria não gosta de pensar e assusta-se com a reflexão. Cansam-me os inúteis. Cansam-me os que pensam perceber mais do que aquilo que realmente sabem. Cansam-me os que opinam (directamente, com a moderna frontalidade) com sabedorias de vida e os que pretendem transmitir ensinamentos, quando pouco sabem ou o que sabem não passam de devaneios (as suas próprias vidas são tão inócuas). Cansam-me os que falam de mais (comummente despropositados) ou aqueles que nada dizem (comummente poltrões). Hoje, seguramente, também estranhamente, tornei-me uma pessoa melhor. Sei disso, mas vou descentrar-me. Continuo a revelar segredos transmitidos em confiança. Inconfidências, quer dizer pois.

14/11/08

...

A perfeição existe? A imperfeição é um defeito? Perfeição e imperfeição - conceitos indeterminados. Dois conceitos, duas épocas, duas mulheres, antagonismo ao rubro! Sinal vermelho. A plebe espanhola (Rossy de Palma) e a aristocrata plebeia (Grace Kelly). A “monstra” e a “bela”. Será? Interessará?

estereótipos, mais uma vez




12/11/08

inocência perdida

Porque é que há a natural tendência para valorizar o nosso trabalho em detrimento do trabalho dos outros?

Porque é que a maioria acha que o seu trabalho é o mais exigente, o mais cansativo, e que lhe exigem muito mais do que no trabalho dos outros?

Porque é que o nosso cansaço profissional tem de ser visto como superior aos demais?

Parecem-me grandes equívocos.

Os outros não fazem nada, eu faço muito mais é uma grande caralhada. Não tenho paciência (mais uma vez) para ouvir permanentes queixas e vanglorias sobre a exaustão do dia-a-dia. Nem da minha, que fará da dos outros. Enfim, acabei de cair no mesmo erro. Eu sei.

10/11/08

sim, confesso

Não é altivez, apenas constatação (a minha) .
Não é preconceito, ter preconceito, afirmar preconceito, é em si preconceito.
Não é arrogância, apenas punição.
Não é pecado, esse conceito, disseram-mo, não existe.
Às vezes falta-me é paciência. Fleuma, sim, é isso. O desapego quando se instala é fodido. Irreversível.
Confesso-me quase inocente, se é que o juízo se aplica. Obviamente, objecto de critica. Certamente, sujeito a desapreço. Seguramente, sujeito a inconvenientes. Sim, incongruências.
Não é aquilo que é mas só o que eu penso que é, o que foi, e o que não sei se será. Pois, parece-me que nunca é tarde para nada. Para já, pelo menos.

Ciranda de Pedra

Por falar na infância, na adolescência, nas angústias porque todos passamos, nas forças adquiridas após experiências aparentemente traumáticas (ou mesmo traumáticas) , eis um excelente livro para perceber algumas dessas angústias, alguns desses medos e, sobretudo, perceber (melhor) que o mundo é muito mais do que a simples aparência externa. Há muito mais dentro de nós do que aquilo que podemos supor. Os outros são tão diferentes daquilo que só nos deixam ver. E é com todas as vivências do passado, por mais dolorosos, por mais difíceis, por mais traumáticas, que podemos crescer com mais força. Devemos olhar para nós, para os outros com mais atenção. Nunca devemos cair de costas, olhar a via sempre de frente.

"...um dia, um besouro caiu de costas. E besouro que cai de costas não se levanta nunca mais".

Ciranda de Pedra, 1954
(Prémio Camões 2005)

09/11/08

os outros e eu

Acontece por diversas ocasiões queixas sobre a nossa própria vida, sobre o que foi a nossa vida no antigo, com todos os traumas, com todas as angústias, grandes ou pequenas, as que fomos acumulando na nossa alma. As alegrias são mais recordadas, ainda bem, a nossa memória faz uma boa selecção para aguentarmos esta vida que vai passando. Vamos abstraindo, porém, as vivências dos outros, muitas vezes bem piores do que as nossas, muito mais dolorosas, as verdadeiramente sofridas. Passados tantos anos, a lucidez de que a minha infância decorreu com tranquilidade e sem grandes (ou nenhuns) sobressaltos! Na minha infância eu fui feliz, entre o campo e a cidade, em viagens que na altura pareciam intermináveis e que hoje não demoram mais de trinta minutos. O cheiro a eucalipto, os banhos no rio, o convívio com os meus muito primos, tardes e tardes que adiavam o fim, o tempo a correr muito devagar, o calor apertado no Verão e o frio de rachar no Inverno (como me lembro das fortes labaredas das enormes fogueiras), os baloiços que nos levavam às alturas entre as árvores. Os meus avós, os meus tios, os meus primos, os meus amigos, todos à espera, sempre de braços mais do que abertos. A minha prima predilecta, tanta brincadeira, tanta saudade também. E tanta picardia, bem própria da idade. Lembras-te, miúda? A minha adolescência correu cheia de sobressaltos, passou devagar, senti-me revolto como o meu corpo em transformação. Chegaram os dezoitos anos e voltei a ser feliz. A amiga da minha prima predilecta deu o empurrão. Esperança, tantos projectos, o mundo todo por minha conta (e eu sentia-o assim, sentia-me o príncipe do mundo, o mundo à minha espera). As angústias, os pensamentos mais dolorosos, sempre presentes. Mas mais controlados, a força apoderara-se, a adolescência criou fortes reacções, enormes defesas, armas que ficaram até hoje. E os outros? Os outros à minha volta, o que se passaria com eles, na sua infância, na sua adolescência? Os outros, as pessoas minha geração, com outras vivências, com outros meios, aqueles que lutaram com reais dificuldades, com tantas provações. Eu não os via, confesso. Eu observava e não os queria ver, penitencio-me. Eu não tinha idade para os querer ver. Eu via mas não queria ver. Ele só via os iguais a ele. Ele, aquele, eu. E eu sei que me queixo, hoje, do passado, mas sei que supérfluo. Tão em vão. Há sempre os outros, os outros que amargaram, os que sobreviviam com dificuldades, os que cresceram com factos que nem por sonhos imaginava que pudessem acontecer. Eu recebi elogios, sempre. Queixei-me por não receber mais, mas sempre os recebi. Ajudaram tanto. Chorei porque me criticaram, mas era tudo tão ténue, tão natural, entre crianças, entre adolescentes. Até isso ajudou (e muito). Vejo isso agora. Há tantos que cresceram sem afectos. Os outros merecem o nosso olhar. Os outros merecem a nossa solidarização. Os outros, os mais desprotegidos, merecem ainda mais o nosso cuidado. A nossa cooperação, nunca o nosso desdém. Somos todos tão iguais. Orgulho e preconceito. Pesado. O preconceito é só uma forma de prejuízo para nós, nunca para os outros. O orgulho deve estender-se aos outros, muito mais do que a nós.

07/11/08

06/11/08

tempo

Estou sem tempo. Nenhum tempo, para quase nada, só para o trabalho. E isso é mau, muito mau. E também é bom, muito bom. Isto não é nada normal, raríssimo! E logo agora que tantas coisas brotam. Eu vou arranjar tempo. Para aqui. Para outras coisas. Os prazos judiciais dão cabo do meu tempo é o que é. E prazo e tempo são sinónimos, foda-se. E uma coisa a dar cabo da outra? Isto não é nada normal, raríssimo! Dá-me tanto prazer esta amálgama do tempo, da sua falta e do correr contra ele. Adrenalina, como gosto. Entretanto, agradeço os honrosos elogios e, claro, vou passando os olhos por aqui. Prometo que vou arranjar um prazo para ter mais tempo de ler melhor. Isto do tempo é mesmo um contratempo!

01/11/08

coisas

Não é fácil perceber os nossos comportamentos, os dos outros menos. O coração cede muitas vezes à razão. A razão oprime, por vezes não nos deixa viver em união. O coração abre, a razão fecha. A razão alerta, o coração perturba. O desassossego é permanente se ambos não se encontram, se ambos não caminham na mesma direcção. Não me sinto oprimido, também não me sinto livre, sinto-me espartilhado num mundo vertiginoso. Todos nos sentiremos assim, não, não sou o único, como na música. Eu quero, sou livre. Eu não posso, há compromissos a cumprir. Eu quero exercer a minha honra. Eu quero, sobretudo, o amor. Não falo do carnal (esse parece tão descartável). Falo do amor que todos precisamos sentir. Eu gosto dos outros, os outros gostam de nós. Os outros são aqueles de quem nós gostamos e os que queremos que gostem de nós. Só isso. Afinal, tão pouco. Porque é que, então, às vezes permanece (ou parece) tudo tão intricado?