Neste mundo em que se vive de vãs aparências, faz-nos falta parar, pensar, reflectir, Devemos parar. Devemos pensar. Devemos reflectir. Há coisas que não merecem a pena. Há outras que não devemos deixar escapar. Por mero acaso, numa noite de pura (e profunda) reflexão, a minha consciência, como que por assombro (somos muitas vezes eternas crianças), concluiu perceber que pode ser tarde para, de repente, perdermos tudo aquilo que nos é raro. As pessoas, em geral, assustam-se com o pensamento. Fogem, perdem-se em devaneios, delírios para escapar a uma vida inútil. Para fugir, perdem-se ainda mais. Eu não gostaria de fugir a nada. Se estou onde estou é porque gosto e quero estar. E hoje, seguramente, sei que, neste exacto momento, estou no local certo, com as pessoas certas, com quem eu quero (e escolhi) estar. E é tão bom esse aconchego, a certeza que o nosso abrigo é o local que nós elegemos para o nosso bem-estar. E para os outros basta dar o mesmo, o nosso peito, para que se sintam também aconchegados. Nada se recebe se não existir troca. Isto não é esquisito, esquisito é perceber que a maioria não gosta de pensar e assusta-se com a reflexão. Cansam-me os inúteis. Cansam-me os que pensam perceber mais do que aquilo que realmente sabem. Cansam-me os que opinam (directamente, com a moderna frontalidade) com sabedorias de vida e os que pretendem transmitir ensinamentos, quando pouco sabem ou o que sabem não passam de devaneios (as suas próprias vidas são tão inócuas). Cansam-me os que falam de mais (comummente despropositados) ou aqueles que nada dizem (comummente poltrões). Hoje, seguramente, também estranhamente, tornei-me uma pessoa melhor. Sei disso, mas vou descentrar-me. Continuo a revelar segredos transmitidos em confiança. Inconfidências, quer dizer pois.
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