31/12/09

Feliz Ano Novo

Feliz Ano Novo
Glückliches Neues Jahr
Feliz Año Nuevo
Felicigan Novan Jaron
Heureuse Nouvelle Année
Feliz Aninovo
Shaná Tová
Happy New Year
Felice Nuovo Anno
Akemashite Omedetou Gozaimasuhá

29/12/09

Era da Graça

Porque é que as pessoas mentem?
Porque é que as pessoas fogem?
Porque é que as pessoas têm medo?
Porque é que as pessoas são tão subservientes?
Porque é que nada é o que parece e tudo parece tão evidente?
Porque é que não há estima?
Porque é que eu não paro de fazer perguntas? Que dúvidas posso ter se já tenho as suspeitas das atitudes?
Porque é que vou aprendendo coisas e continuo a saber que pouco sei?
Porquê?
Este ano de 2009 foi um ano especial, de mudanças, a vários níveis, na minha existência e na existência dos que me rodeiam. Perdi. Ganhei mais. As perdas, quando acontecem, é porque não nos estavam destinadas. Deixam de ser perdas, passam a ser aprendizagens. Os ganhos, quando nos tomam, são estímulos. E esses, os estímulos, são sempre estágios da nossa evolução.
Este ano de 2009 não foi um ano mau, nenhum ano é mau para quem gosta de desafios, de despiques. Este ano foi um ano bom. E se as perdas existiram os ganhos foram maiores. Este ano de 2009 foi um ano de desafios, de estímulos, de aventuras, novidades, de grandes emoções. Aliás, as emoções acompanham a minha existência, a de todos, e são elas que nos movem, que nos orientam para sermos bons.

Eu não minto. Omito, não sou perfeito.
Eu não fujo. Esquivo-me, não sou pateta.
Eu não tenho medo. O meu medo é o medo de ter medo.
Eu não sou subserviente. A honra e o respeito não mo permitem.
Eu estimo. Não deixo é que me abocanhem.
Eu nunca deixarei de questionar, seja o que for.
Eu só sei pouca coisa porque há tanta coisa a saber que quanto mais sei mais percebo que tenho de conhecer mais.
Percebi, ao longo dos anos, que só perdi uma pessoa. E mesmo Essa, e porque Anno Domini, não perdi. Anno Domini Nostri Jesu Christi.
Amen.

24/12/09

Feliz Natal



Uma escultura do atelier alemão de design Sholtz & Friends. Está em Bebelplatz, em Berlim, no local onde os nazis queimaram cerca de 20 mil livros, em 1933 (publicada em Casa das Letras). Este, também, e sobretudo, é o espírito do Natal. Liberdade, Dignidade e Honra. Nunca subserviência, isso só significa desrespeito. Esta escultura significa para mim o verdadeiro sentimento Natalício. Feliz Natal !

15/12/09

Don't Give Up

Volto já, para falar sobre o Tarantino, sobre nunca desistir e outras coisas que mais. Entretanto, claro, Don't Give Up. Never!

08/12/09

breaking the waves soundtrack

Maria João Seixas



Maria João Seixas é a nova directora da Cinemateca Portuguesa.

Ainda se fazem escolhas acertadas em Portugal. Ainda bem que não foi por Referendo, ainda podia calhar a namorada do Sócrates !

06/12/09

The White Ribbon

" A saga lancinante de brutalidade e culpa colectiva, numa aldeia do Norte da Alemanha, vinte anos antes de Hitler ascender ao poder. O sítio é perturbado por actos aparentemente aleatórios de violência. Vemos a aldeia através de cinco famílias - as do barão, do seu mordomo, de um rendeiro, do médico da vila, do sacerdote - e através dos olhos do professor, vindo de fora. Tanto ele como nós percebemos rapidamente que as crianças estão a ser ensinadas a acreditar que o Céu as observa e que o Inferno as espera. Nesta aldeia, porém, o papel de Deus é muitas vezes assumido pelos austeros pais. Quando o pai descobre que o filho se masturba, mantêm-no de braços atados durante todas as noites. Uma vez, há um incêndio. O miúdo pede ao irmão mais novo para o libertar. Ele recusa-se: "O pai disse-me para não desatar". Se o espírito dos cúmplices alemães, durante o Terceiro Reich, pudesse ser definido numa frase, seria nesta."

Visão, 3 de Dezembro de 2009
The White Ribbon, Michael Haneke. Palma de Ouro Cannes 2009.
O filme estreia em Portugal a 7 de Janeiro de 2010. Lá estarei, claro.



Michael Haneke não é um cineasta para todos, infelizmente. O medo dá medo e ouço absurdos de que o medo, o terror, o mal-estar, causados pelos seus filmes não podem ser arte. Que é arrogância. Que se trata de exibicionismo. Discordo, em absoluto. Alguma, muita provocação, mas isso não é mau. Os filmes de Michael Haneke são sempre surpreendentes, estimulantes, duros, por isso e também deveras incitadores. Não são banais, estou cansado de coisas banais, coisinhas que não importam nada.


Alguns exemplos:
-
Funny Games, versão 1997: A violência não acontece só nos filmes, o tipo de violência mostrada no filme é hoje (ou sempre foi) generalizada. Medo? Claro. As pessoas revêem-se na possibilidade de irem-se e passarem pelo mesmo.
-
La Pianiste, 2001: Antes de mais, claro, Isabelle Huppert. Esta mulher deixa-nos sem fôlego, quase sempre. A mim, sempre. Depois, os mistérios da aparente normalidade e os segredos profundos que se guardam. Até onde nos levam as perversões não aparentes? A repressão impede-nos de muita coisa ou liberta-nos para os piores instintos.
-
Caché, 2005: A culpa. Todos somos reféns dela, da angústia, do medo, do mal que podemos ter feito, do mal que fizemos e que queremos esquecer (a nossa consciência nem nos deixa a lembrança). A culpa persegue-nos, sempre.
-
Code Inconnu, 2000: A raiva traz sempre consequências terríveis e inesperadas.

Uma forma de arte está obrigada a confrontar a realidade, a tentar encontrar um pequeno pedaço da verdade. Michael Haneke.

27/11/09

26/11/09

18/11/09

...

Há já muito tempo não escrevo. A vontade não me falta, o tempo escasseia. Já repeti várias vezes esta frase (aqui) mas o facto é que de facto não tenho tempo. Mas a vontade nunca esmorece, a escrita, os livros, o cinema fazem bem. Fazem-me bem. Tenho encontrado amigos, noutras paragens, também virtualmente. Bom. Muito bom. Excelente. Os amigos são bons. Gosto de os ter. Gostamos todos. Isto anda cada vez mais virtual, a realidade não é o que aparenta ser, é, não é, tudo depende do ponto de vista. "Se o contrário de real é irreal, então qual é o contrário de virtual?". Este será um tema a que voltarei depois de ver The Matrix que me suscitou muita curiosidade depois de um almoço com amigos. Ainda não vi, mea culpa, ou não, mas vou ver e seguramente que vou querer escrever sobre o filme. Não me parece tarefa fácil. É que já vi metade do primeiro. Mas a facilidade é tão aparente, tão irreal. Entretanto, um excelente escrito sobre o filme.

03/11/09

com aspas e sem aspas

Fico muito contente por tudo isto chegar ao fim. Talvez julguem que me derrubam de um só golpe, que deram um pontapé na minha coragem, que me aniquilaram ou qualquer coisa assim? Pelo contrário, elevaram-me, lisonjearam-me, passado tanto tempo deram-se uma gota de esperança. Não fui talhado para ser máquina de escrever e de fazer contas. Gosto bastante de escrever, gosto bastante de fazer contas, apraz-me conviver honradamente com quem me rodeia, sou zeloso e, desde que tal não me fira o coração, obedeço apaixonadamente. Também saberia submeter-me a certas leis, se tal fosse necessário, mas há já algum tempo que não me parece necessário. Hoje de manhã, quando cheguei atrasado, sentia-me apenas zangado e irritadiço, não me preocupei honrada e conscientemente, nem sequer ralhei comigo ou, quando muito, apenas me censurei por ser ainda o mesmo rapaz tolo e medroso que salta quando batem as oito horas, que entra em movimento como um relógio a que se dá corda e que continua o seu movimento enquanto a corda dura. Agradeço-lhe por revelar a energia necessária para me despedir e peço-lhe que pense acerca de mim o que bem lhe aprouver. O senhor é sem dúvida um grande homem, admirável e digno de estima, mas eu, bem vê, também gostaria de ser assim, e por essa razão é bom que o senhor me mande embora, e por essa razão foi uma bênção que a minha conduta de hoje fosse inadmissível , como é costume dizer. No seu estabelecimento, que anda na boca do mundo e onde tanta gente gostaria de trabalhar, está fora de causa que um homem ainda novo possa evoluir. Quanto ao privilégio de auferir um salário mensal fixo, a minha indiferença não podia ser maior. Aqui esmoreço, perco inteligência e coragem, torno-me burocrático. Talvez o surpreenda ouvir-me falar deste modo, mas reconhecerá que me limito a dizer a verdade. Aqui há um homem apenas: o senhor! Nunca lhe ocorreu que entre os seus pobres subordinados se encontram talvez um ou dois que sentem também o ímpeto de serem homens, homens que agem, que criam, que inspiram respeito? É para mim impossível ver algum encanto no facto de ficar à margem apenas para não granjear a fama de ser um rapaz insatisfeito e pouco empregável. Como é grande aqui a tentação do medo, e como é pequena a vontade de escapar a este temor lastimável. Que hoje eu tenha concretizado esta quase impossibilidade é uma circunstância que louvo em mim, digam os outros o que disserem. O senhor director barrica-se aqui, ninguém o vê, ninguém sabe quem dá as ordens, na verdade também ninguém obedece, limitam-se a cumprir os seus hábitos moles e rombos e é assim que fazem o que têm a fazer. Que armadilha para gente nova que tende ao conforto e à preguiça. Aqui não se pede nada às muitas forças que em princípio animam o espírito de um homem novo, nem se exige nada que pudesse levar um homem a distinguir-se. Nem coragem nem espírito, nem lealdade nem zelo, nem ímpeto criativo nem vontade de trabalhar nos ajudam aqui a chegar mais longe, pelo contrário, é até estritamente proibido dar provas de força e energia. Claro que, com este lento, arrastado, seco e lastimável sistema de trabalho, isso teria de ser proibido. Despeço-me de si, caro senhor, saio daqui para restabelecer a minha saúde através do trabalho, nem que seja para cavar terra ou para carregar sacas de carvão às costas. Gosto de qualquer trabalho, à excepção daqueles que não empregam todas as forças disponíveis.


Robert Walser, Os Irmãos Tanner, pp. 29-30.
Robert Walser nasceu em Biel, na Suiça, em 1878.
Foi encontrado morto, na neve, nos campos que circundavam o sanatório de Herisau onde estava internado (“Estou aqui, não para escrever, mas para ser louco”), no dia 25 de Dezembro de 1956.
Robert Walser é um dos escritores que maior influência exerceu sobre Franz Kafka, Hermann Hesse ou Robert Musil.

As palavras aqui trancritas foram publicadas no ano de 1907. Há 102 anos!

02/11/09

O Meu Amor

Opera do Malandro

Marieta Severo e Elba Ramalho

Grande Chico Buarque !

29/10/09

onde é o topo do mundo ?




Outro excelente artigo, desta vez no JN.

O Porto no topo do mundo.
A Foz no topo do Porto.
E o Jardim do Passeio Alegre no topo da Foz.
É toda a minha vida!

PASSEIO ALEGRE

Chegaram tarde à minha vida
as palmeiras. Em Marraquexe vi uma
que Ulisses teria comparado
a Nausica, mas só
no jardim do Passeio Alegre
comecei a amá-las. São altas
como os marinheiros de Homero.
Diante do mar desafiam os ventos
vindos do norte e do sul,
do leste e do oeste,
para as dobrar pela cintura.
Invulneráveis — assim nuas.
Eugénio de Andrade
Rente ao Dizer (1992)
In Poesia
Porto, Fundação Eugénio de Andrade, 2000

28/10/09

"a beleza dura cinco minutos"



Extraordinária entrevista no Expresso a Monica Belluci.
"A beleza dura cinco minutos"
Oscar Wilde
Neste caso, alguém se importa?
Já agora, vale a pena ler/reler "O Retrato de Dorian Gray" , Oscar Wilde. Romance sobre a imortalidade, a perfeição, a juventude eterna, a beleza etérea e efémera e outras impossibilidades aparentes e não aparentes. Claro, mais uma obra-prima.

21/10/09

O Túnel

Livro sobre a solidão, sobre a incapacidade de entendimento dos outros, ou a busca incessante da procura de intenções alheias. Muitas vezes acertamos, outras erramos, os juízos de valor são sempre aleatórios, perigosos e podem ter consequências terríveis. Tão terríveis, como diz o personagem Juan Pablo Castel, que desejamos livrarmo-nos de nós. “Senhor, livra-me de mim”. Ao tentar livrar-se de si, livra-se da mulher que ama, a única que talvez o tenha compreendido e que por isso decidiu matar. Impossibilidade de comunicação, nunca somos o todo de nós mesmos, o "túnel" da vida tem de ser percorrido como um acto solitário. Por mais dolorosa que seja essa solidão não é possível que terceiros decidam por nós. Por mais que amemos, por mais que respeitemos, os outros, os nossos, somos sempre só nós a decidir sobre o "túnel" a percorrer.

Juan Pablo Castel, pintor, apaixona-se por uma mulher que foi visitar a sua última exposição, Maria Iribarne. Será essa a única mulher (pessoa) que percebeu a sua pintura, um dos seus quadros e que por isso o irá compreender a ele? Será que é Maria Iribarne, mulher misteriosa, que não consegue comunicar com os outros, sendo assim apresentada por ele como uma pessoa egoísta? Ou será Juan Pablo Castel que não consegue comunicar com as pessoas, com essa mulher, com todos, e entra numa espécie de espiral de reflexões precipitadas? Ou não? Estará louco? Ou lúcido? E porque é que Juan Pablo Castel, detalhadamente, desde o início do livro, procura encontrar razões para o acto que cometeu, o assassinio da única mulher capaz de o compreender? «Existiu uma pessoa que poderia entender-me; mas foi precisamente essa pessoa que matei»

Obra-prima absoluta.

O Túnel, 1948
Ernesto Sabato


15/10/09

Cláudia, Naomi e Eva


Anda meio mundo maluco. O stress causa efeitos muito perversos nas pessoas, tudo quer aniquilar tudo. As pessoas não medem os seus actos, dizem o que querem e o que não querem, ultrapassam todas as barreiras. Insultam-se no trânsito, menosprezam os outros, subestima-se a inteligência alheia, desvalorizam-se os diferentes. Não se percebe de imediato que se destroem é a si próprios? Efeito flecha, efeito ricochete. Retrocesso programado. Enfim, nada que não se saiba mas que aniquila relações. Há um programa que se chama "Super Bonita", brasileiro, antónimo de tudo o que disse antes, e que faz falta à maioria das gentes. Gente "Super Bonita" faz falta. E a futilidade pode ser sinónimo de várias fontes de energia. Ops! O resto também, gente "Super Bonita" sob todos os pontos de vista. Procuram-se. Cláudia, Naomi e Eva. Venham elas. E venham mais, com muito mais na cabeça do que aquela brasileira rasca chamada Maitê Proença.

28/09/09

They Shoot Horses, Don't They?

Durante a Grande Depressão, nos anos 30, nos Estados Unidos da América, a maioria da população vivia mal, no desemprego, na miséria, em instabilidade total. Corrupção, crime, e tanto mais. Nessa época, entre outras "oportunidades", apareceram os concursos de dança que testavam até ao extremo a resistência dos participantes e que, perante uma audiência ansiosa pela desgraça alheia, procuravam humilhar o mais possível esses mesmos participantes. Em 1969, Sydney Pollack realizou o filme "They Shoot Horses, Don´t They?", baseado no romance homónimo de Horace MacCoy. É uma história cruel. Tudo gira à volta de uma maratona de dança onde os pares dançam numa competição maluca de forma a ganhar o prémio final. Ou só uns míseros dinheiros. Curioso perceber a actualidade do filme, do tema, nos dias de hoje. Curioso perceber que o mesmo tipo de concursos proliferam nas nossas televisões. Curioso perceber que ainda hoje se vive assim. Todos preferem os idiotas. As audiências aumentam. A população tem orgasmos. Viu-se ontem, em dia de eleições. Portugal continua com o primeiro-ministro que não merece. O povo português elegeu-o. E em bis. Mas não estamos a falar de um Cavalo num caso destes. O Cavalo é um animal portentoso. O nosso primeiro-ministro parece-me apenas um patrocinador de um concurso daqueles.

25/09/09

Morangos Silvestres



Ingrid Thulin e Victor Sjöström no filme “Morangos Silvestres”, 1957, Ingmar Bergman. Uma obra-prima absoluta. A nossa vida existe, nos seu sentido pleno, seremos verdadeiros, apesar de todas as nossas incoerências? Se reflectirmos , se ponderarmos, se tomarmos consciência da nossa própria existência, os outros serão tão melhores connosco como nós com eles. A complexidade transporta-nos para a simplicidade. O inverso não.

24/09/09

histriões

Inteligência emocional é um conjunto específico de aptidões utilizadas no processamento e conhecimento das informações relacionadas à emoção. Na história da psicologia moderna o termo “inteligência emocional” expressa um estágio na evolução do pensamento humano: a capacidade de sentir, entender, controlar e modificar o estado emocional próprio ou de outra pessoa de forma organizada.

Inteligência social é uma habilidade de perceber estados internos, motivações e comportamentos de si próprio e dos outros e de agir de acordo com essa percepção.

Ora, na maioria das vezes, no nosso dia-a-dia, encontramos pessoas destituídas dessas formas de inteligência, no sentido básico em que são definidas na psicologia moderna, neste contexto também pouco interessa, já só digo no sentido básico do bom-senso. Quando num almoço de rotina encontramos um desconhecido, que se senta na nossa mesa, altera a base da conversa, só fala nele (repito, uma pessoa desconhecida embora conhecida da outra pessoa que almoçava na mesa) e no fim nos deseja “Boa Sorte”, apetece perguntar e responder:

1. Boa sorte para … ?
2. Alguém pediu a sua opinião … ?
3. Não lhe ocorreu mais nada para dizer?
4. Porque não dizer apenas “até à próxima, gosto”!
5. Olhe, boa sorte para o raio que o parta que eu já estou mesmo de saída pois não estou para aturar cromos. E "continuação" e "tudo de bom" para si também.

O pior, e se vazássemos todas estas respostas, também nós estaríamos destituídos daquelas formas de inteligência, ainda com a agravante de que seríamos apelidados de arrogantes, malcriados e filhos da puta. Afinal, tão difícil encontrar pessoas curiosas. Bom, estas coisas acontecem a todos mas eu não me apetece muito aturar histriões na minha única hora de descanso do dia. Serei anti-social?
(Nota: os termos "continuação" e "tudo de bom" são dedicados a uma amiga do peito. Estou contigo!)

22/09/09

Lágrimas e Suspiros

Belíssimo! Tristeza, morte, solidão, ausência, desespero, vazio, resistência à partilha de sentimentos, almas dilaceradas de todas as personagens mulheres. Um experiência arrebatadora. "Lágrimas e Suspiros"?! Acho que só nos filmes, ou seja, em permanência na vida real não é poético. É patético. Tantas incongruências, estas, as da vida real. Tantas emoções, estas, as de um filme como este. A morte pode transformar-se num poema?

Lágrimas e Suspiros, 1972

Ingmar Bergman

16/09/09

Singularidades de uma Rapariga Loura

"Singularidades de uma Rapariga Loura" é baseado num conto homónimo de Eça de Queirós. A base são singularidades. Singularidades da loura, pensamos em singularidades dos outros, nas nossas, muitas vezes a aparência revela muito pouco. A história centra-se em Macário, que se apaixona por Luísa Vilaça, com quem quer casar, até que descobre uma singularidade da sua pura noiva. O filme é sobre o reconhecimento, a passagem do ignorar ao conhecer, a decisão consciente dessa passagem quanto a uma tomada de decisão. Macário vê demoradamente a loura, apaixona-se pela aparência, propõe casamento, conhece a singularidade em causa e decide. O reconhecimento é importante, a passagem do ignorância ao conhecimento é inevitável. A tentativa de compreender a natureza do ser humano. A nossa própria natureza. Manoel de Oliveira é um centenário. A idade dará saber.

Singularidades de uma Rapariga Loura, 2009

Manoel de Oliveira

15/09/09

A morte de Bunny Munro



" estou fodido"

Bom perceber que não somos os únicos. Relativizar, sempre. Entre risos, gargalhadas, horror, fascínio, e outras coisas mais ... assim vai correndo a leitura. "Yes!", gosto de gente assim.

A morte de Bunny Munro

Nick Cave

14/09/09

Cat People




Gosto desta música. Muito. Cat people, nunca sem garras!


E com olhar fatal, sempre!


Então ... e se for a Nastassja Kinski!


Ou aquela, e eu tenho esse olhar comigo.

11/09/09

07/09/09

Saraband



Ao ler uma entrevista de Woody Allen esta semana na Revista Única, quando ele refere que “falta glória na minha vida” e acrescenta que nunca fez filmes como Ingmar Bergman, apeteceu-me ver "Saraband", guardado há dois ou três anos nos filmes que compro e que ainda não vi. E fi-lo, ontem à tarde, num domingo à tarde, perfeito para ver um filme como este, estrutura perfeita, desespero, suavidade e densidade, simplicidade e complexidade, tudo em completa união, tudo o que eu precisava de ver. O momento certo. O dia certo. O filme mais-do-que-perfeito. "Um concerto para uma orquestra sinfónica, com quatro solistas", os quatro magníficos actores do filme e Ingmar Bergman. Ingmar Bergman é um realizador não passível de classificação. É um espírito não susceptível de rótulos. É um dos melhores do mundo. Como diz Liv Ullmann: "filmes e pessoas não envelhecem da mesma maneira." E se Ingmar Bergman morreu os filmes não morreram, não envelhecem, são "Morangos Silvestres" ao alcance de tantos e de tão poucos. "Saraband" (2003) será uma "espécie" de continuação de "Cenas da Vida Conjugal" (1973). O filme inicia-se com a personagem de Liv Ullmann a ordenar fotografias e é ela que desencadeia a narração ao decidir, trinta anos depois de ausência, visitar o seu velho ex-marido, que vive numa casa isolada, longínqua, com uma belíssima vista, rodeado de livros, música e filosofia. Ao chegar, depara-se com os problemas daquele velho, do filho do velho que também já é velho, e da jovem e bela neta do velho que não quer ser velha tão nova que ainda é. As personagens estão à beira do abismo, o velho já é muito velho, o filho do velho pode morrer se a sua filha avançar com a sua vida, a filha não sabe o que fazer. Há ainda presente a fotografia da falecida mulher, mãe e nora, ausente mas tão presente e tão amada pelos três. Há, também, a filha doente e internada num hospital psiquátrico de Liv Ullmann (Marianne) e Erland Josephson (Johan). Os rostos, as bocas, os olhos, as expressões das personagens, tudo é filmado com uma simplicidade e complexidade surpreendentes. Belíssimos primeiros planos, belíssimas aproximações da câmara aos rostos das personagens. A música, o silêncio, a expiação de todos os deles nossos pecados. Liv Ullmann mantêm-se o mais neutra possível no meio de tantos conflitos interiores, de tanta angústia, de tanto sofrimento, ao mesmo tempo no meio de tanta pureza no meio do ódio que as outras personagens sentem umas pelas outras. O pai pelo filho. O filho pelo pai. A filha pelo pai. São tantos os andamentos, os compassos, que ficamos trémulos, ocos, vazios, como se a angustia fosse toda sair das nossas entranhas. Como nas personagens. O despojamento total quando Erland Josephson surge no quarto de Liv Ullmann, despe-se, pede-lhe para se despir, e ambos, nus, deitam-se na cama. O silêncio. A angústia extrema. Ingmar Bergman filma a essência humana de forma profunda, acho que como ninguém. Captamos a alma das personagens e sentimo-nos como elas. Sim, bem mais Bergman do que Almodóvar. Sim, bem mais cinema do que teatro. Enfim, perante uma obra destas ficamos sempre dilacerados, tristes, mas tão visceralmente preenchidos. É o bastante. O tão bastante que nos deixa engrandecidos.

Entretanto leio “Filhos de Domingo”. Ingmar Bergman a escrever sobre ele próprio, recuando aos seus oito anos, na relação conflituosa que manteve com o pai e toda a sua envolvente familiar. Ainda, quero ver/rever filmes de Ingmar Bergman. Já os tenho, pelo menos doze bem à mão.

Saraband, 2003

27/08/09

leituras

João Bénard da Costa trouxe-me "Muito lá de Casa” e confirmei as muitas coincidências entre os meus e o que eram o cinema, os actores e os realizadores dele. Pier Paolo Pasolini apresentou-me “Teorema” e fiquei a perceber que as pessoas (vida burguesa, imersa no vazio existencial …) que rodeavam a praia onde estava eram, aparentemente, muito parecidas com as personagens daquele livro (senti-me desconfortável, incomodado, Pasolini deixa sempre essa sensação de repulsa). De Chico Buarque D´Holanda li “Leite Derramado” e deambulei pela saga familiar, vista por um velho muito velho, caracterizada pela decadência social e económica ao longo de dois séculos da História do Brasil. Acompanhei Miguel Sousa Tavares numa viagem ao Sahara com a sua amiga Cláudia e fiquei admirado (sim, é essa a palavra) com a sensibilidade de Sousa Tavares, "No Teu Deserto, Quase Romance", no deserto dele, no deserto da amiga. "Caos Calmo" deu-me (ou está a dar-me, ainda não terminei) a perceber que muito o que se escreve sobre filmes, sobre as interpretações nos filmes, são puras invenções dos críticos. O livro é tão bom como o filme, Nanni Moretti não é o personagem principal, o personagem principal foi inventado pelo escritor Sandro Veronesi. As leituras de férias passaram ainda por uma vista de olhos a João Ubaldo Ribeiro, à Ilha de Itaparica, à história de Deoquinha Jegue Ruço casado com Benedita, em "Miséria e grandeza do amor de Benedita". E assim, entre outras coisas, se passaram as minhas melhores férias dos últimos anos. Deus é Brasileiro mas o Brasil é muito português.

24/08/09

Conversa Indiscreta

Acho piada à Alexandra Lencastre. Sempre achei, desde há anos atrás, desde a altura da Rua Sésamo. Acho piada ao conceito do programa Conversa Indiscreta, na TVI 24. A entrevistadora é Alexandra Lencastre. Já não acho tanta piada aos entrevistados, a alguns dos entrevistados. Os mais bizarros, execráveis mesmo, dos que assisti, foram o Diogo Infante e a Guta Moura Guedes (ficamos a saber que se chama Augusta Regina, ou qualquer coisa assim; bom, e as coisas que faz, ena, interessa-lhe tanta coisa). Diogo Infante falou de si, sobretudo como ele, homem, actor, encenador, director, como ele em tudo consegue ser tão bom, tão extraordinariamente bom, o que é uma chatice, isso de ter essa sina, a sina de ter nascido assim, bom, muito bom. Ponto final. Ele não precisa de conselhos. Ele dá-os sem autorização. Ele é extraordinário. Enfim, se não fosse como é gostaria de ser exactamente como se o fosse. Guta Moura Guedes interessa-lhe muita coisa, explica muita coisa, mas só diz banalidades, dá grandes explicações, essas, as explicações, que já quando éramos crianças as sabíamos. Ou seja, fala dela como se fosse outra pessoa. Ou seja, explica coisas sobre ela e sobre os outros de uma forma tão básica que é confrangedor. Ou seja, e melhor, tudo o que ela quer transmitir do que é como pessoa acaba por ser exactamente o oposto daquilo que está a mostrar ser. Quer ser muito e mostra que é muito pouco. Extraordinário país este, onde uma pessoa que diz o que o Diogo Infante diz (se o diz é porque é como o diz) é o Director Nacional do Teatro Nacional D. Maria II. Extraordinário país este, onde a Senhora Design não sabe dizer nada a não ser que é muita coisa. Ficamos sem saber o quê, em ambos os casos.
(eu voto na Odete Santos; a melhor entrevistada do programa)

21/08/09

regresso


Regressei há 3 dias. Feliz por estar aqui, feliz por tudo ter corrido tão bem. Feliz por estar calmo. Campo (o Alentejo do interior sempre presente), praia (a Prainha nunca me soube tão bem), leitura (vou escrever sobre ela), até filmes deu para ver. Algumas futilidades, inevitável, condenável, mea culpa, só minha. Ou culpa nenhuma. Desde que cheguei não tive tempo a mais a não ser para organizar assuntos. Isso também é bom. Muito bom. O regresso. Aqui estou, aqui vou continuar, aqui é onde me sinto bem. Voltei à Foz, ao desaguar de toda a minha existência. Já ouço o barulho do Farol todas as noites. Já vejo (e ouço) as ondas deste mar.

14/08/09

quase o regresso ...


Depois de algumas peripécias, nomeadamente, uma ida nocturna a uma clínica médica em Alvor, continuo nesta praia, naquela piscina. A praia é muito melhor, vou aproveitar estes últimos dias o melhor que puder. E ala que se faz tarde (embora em férias o tarde seja sempre cedo, ou vice-versa, ou o que importa), a caminho da praia e do "Caniço".

09/08/09

Raul Solnado

Raul Solnado marcou uma época de sucessivas gerações de artistas. O humor em Portugal foi influenciado por ele, lembro-me de Raul Solnado desde sempre, desde que me recordo como gente. Raul Solnado, ainda, era uma figura conhecida e querida de todos os Portugueses, habituamo-nos a conviver com ele. Vi-o uma vez, à entrada ou à saída de uma clínica na Póvoa de Varzim. E a figura simpática que via na televisão pareceu-me a mesma quando o vi pessoalmente. Pequeno, simpático, afável, agradável, uma pessoa cuja empatia é imediata. Parece-me justa a avaliação de todos os que têm vindo a falar dele, Raul Solnado vai ficar na memória e no coração dos Portugueses. E há tão poucos assim, aqueles verdadeiros artistas mas que são sobretudo grandes Homens. E o Raul Solnado parecia-me um grande Homem. São palavras e frases suaves, estas, as que escrevo. São palavras e frases adequadas a um grande artista Português, a um comediante (e muitas outras coisas) inigualável. São palavras suaves as que se devem dizer nestas alturas, as que mostram respeito, não palavras e adjectivos em demasia.



Raul Solnado
19 de Outubro de 1929 – 8 de Agosto de 2009

31/07/09

repouso

Farto de trabalhar, cansado, assim como assim, vou de férias. Estou nesta piscina, por uns tempos. Não que isso importe, importa a mim. Vou voltando, sempre que apetecer !

28/07/09

Última Parada 174

Inspirado no documentário de José Padilha (2002), “Última Parada 174”, nas palavras do realizador, é um filme “sobre a condição humana e não sobre a condição social do Brasil”. Apesar destas palavras, ditas pelo próprio realizador, não posso concordar com a última parte. Melhor, é um filme mais sobre a condição humana do que sobre a condição social do Brasil. Ou foi até mesmo isso que Bruno Barreto quis dizer. Favela, tráfico, morte, sangue, massacre da Candelária, toxicodependência, cheira cola, assaltos, meninos de rua, Copacabana, violência, marginalidade, tudo é narrado com absoluta crueza, com uma desumanidade que fere, realidade ou ficção, para nós, os não brasileiros, parece ficção. Não pode ser assim como estamos a ver! Mas é. Será. O desinteresse total pela vítima, a indiferença absoluta pela morte. A mim parece-me o Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa. Estive lá, pressenti. Desculpem. O filme é sobre a condição humana. O filme é sobre a condição social do Brasil. A história, baseada em acontecimentos reais, muito ficcionada, conta o trajecto de uma mãe que perde um filho e de um filho que perde a mãe. É a história de Sandro, de como ele parte para Copacabana, zona Sul do Rio, de como ele deambula pelo centro do Rio, de como vive na rua à beira da Igreja da Candelária, de como sobreviveu ao massacre que aí ocorreu e a outros massacres noutras favelas do Rio, das suas aventuras e desventuras, das prisões cariocas onde esteve, de um menino que ninguém vê, que ninguém quer ver. O Rio não pode ser isso, não queremos que seja, o Rio é a Cidade Maravilhosa. Ambos, o filho e a hipotética mãe, lutam contra a invisibilidade social. A mãe conforma-se e refugia-se nas igrejas paralelas e em Deus; o menino quer que o vejam - ninguém o vê, que o queiram - ninguém o quer. A invisibilidade social não pode permitir tudo, não pode permitir as imagens a que vamos assistimos, não podem sobretudo desculpabilizar tamanha violência. Algo está mal. O quê? O Rio de Janeiro é a cidade mais bonita do mundo, ainda por cima, e isso torna tudo ainda mais chocante. Sandro conseguiu visibilidade da pior forma, o título do filme (no original) significa exactamente isso. Foi a sua última parada, o autocarro 174. E, nesse dia, em directo, todas as televisões do mundo o viram. Arnaldo Jabor, jornalista e cineasta, que muito admiro, não tem medo, não quer esconder a sua cidade (o seu país), e refere a propósito desta história: "Ônibus 174, além de ser um dos melhores filmes de nosso cinema, é um crescimento para nossa consciência política. Vejam esse filme, vejam esse filme, chorem com ele! Falem para todos que não dá mais pé vermos o show da miséria que começa com menininhos fazendo malabarismos nos sinais de trânsito e termina tratando-os como ratos mortos à nossa frente." Não sei se o disse a propósito deste filme ou do documentário de José Padilha. Mas demonstra coragem, demonstra consciência. Como dizia Jean Jacques Rousseau: "O homem nasce bom e a sociedade corrompe-o". Se há outros filmes sobre favelas, tais como, Cidade de Deus e Tropa de Elite, mais bem conseguidos, mais geniais? Se temos sido bombardeados com este tipo de assuntos pelo novo cinema brasileiro? Sim, há. Sim, são. Sim, somos. Mas isso pouco importa. Este é um bom filme. Este é um muito bom filme para ver.

Última Parada 174, 2008
Bruno Barreto



Curiosidade: Bruno Barreto e Arnaldo Jabor são meus “velhos conhecidos”. O primeiro fez o filme “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976); o segundo fez o filme “ Eu te amo” (1981). Sónia Braga era a estrela em ambos. E cheirava a cravo e a canela. Dava para sentir !

27/07/09

Happy Go Lucky

Onde estivemos?
Para onde vamos?
Qual o sentido da vida?
O que nos faz feliz?
Eu sou feliz. Pode ser duro, às vezes, mas faz parte. Tenho um óptimo trabalho, amigos incríveis.
Não se pode fazer toda a gente feliz.
Não custa tentar.
Eu sou feliz.
Só?
E já não é muito?
Happy Go Lucky, 2008
Mike Leigh

23/07/09

super orgulho de pai


513 votos comentários
"A primeira pergunta que se faz ao Benfica é: como é que foram comprar um jogador que na época anterior tinha realizado 57 minutos e considerar uma grande aposta?! E ainda por cima, contratarem-no por 4 milhões de euros! Os adeptos do Benfica deviam logo aí pensar duas vezes antes de ficar muito felizes com a contratação deste pseudo-jogador. E depois, por ele não jogar, assobiam. Coitado do homem. Que culpa tem ele de o treinador não o pôr a jogar? Ele não iria fazer exibições fantásticas, não tinha ritmo. E num simples ano, um jogador que era considerado uma grande aposta, passa para um jogador que ao todo o custo tem de sair do clube".
Publicado num site de desporto/futebol. O melhor comentário do dia! Super orgulho de pai.
Autor (...). Pois, "obrigaram-me" a retirar.

W Delta Z

Gosto de filmes de terror. Esvaziam a cabeça, não nos deixam pensar em nada, fazem-nos por tempos esquecer que o mundo real existe. Não que o mundo real seja mau, antes pelo contrário, mas às vezes preciso em não pensar em nada. Ora, os filmes de terror são projectados, de quando em vez, no meu cinema privado, em casa. Como ninguém aprecia, lá por casa, acabo por vê-los sozinho e na maioria das vezes apanho grandes banhadas. Além de filmes de terror assisto a verdadeiros filmes gore. Malogro total. Mesmo assim persisto e alugo filmes deste género, sobretudo em alturas como esta em que não tenho tempo para grande coisa. Mais uma vez o fiz, completamente ao calhas, e trouxe esta matemática da morte. Vários corpos são encontrados nas ruas da cidade de Nova Iorque, mutilados, com a equação WAZ gravada na pele morta dos assassinados. O início é o costume, uma dupla de detectives, um mais velho e experiente, outra, a parceira mais nova, bonita (supostamente) e inexperiente. Não vou descrever o argumento, algo original, mas atirar com a pergunta que surge logo quando a dupla descobre o significado da equação WAZ. Qual o limite da dor que suportaríamos se estivéssemos em frente da pessoa que mais amassemos e soubéssemos que seria morta quando já não aguentássemos mais a dor que nos estão a infligir? Matar a pessoa que mais amamos ou sermos mortos? Parece vulgar, contado assim, mas o filme não é (só) de terror. Trata-se de uma história de amor. E é nisso que se distingue dos milhares de filmes de terror todos aparentemente iguais. O melhor do filme: o actor principal Stellan Skarsgard. Aqui em ondas de paixão bem diferentes de Breakinkg The Waves. O pior do filme: a ideia foi boa mas não deixamos de pensar que é mais um frustrante filme de terror que não é de terror. Não pensei em mais nada, durante o filme, e gostei das últimas cenas. E Isso já é bom.

Waz, 2007
Tom Shankland

18/07/09

The Misfits

Após o divórcio, uma jovem solitária (Marilyn Monroe) conhece dois cowboys (Clark Gable e Eli Wallach). Os dois hipnotizam-se por ela, a jovem interessa-se por um deles (Clark Gable), aquele que mais simboliza a liberdade que ela nunca teve. Aparece um terceiro cowboy(Montgomery Clift) e os três partem para as montanhas à procura de cavalos selvagens. Descobrem, na imensidão daquelas montanhas que, apesar das suas diferenças, partilham das mesmas necessidades, dos mesmos traumas, todos inadaptados à vida comum, todos profundamente tristes.

John Huston, o realizador, fez o filme, um puro clássico, uma verdadeira obra-prima. Um belíssimo filme, um filme de culto, mítico, um filme realizado em total e plena liberdade, um filme de busca de felicidade, que persiste não chegar, na imensidão de um deserto, no Nevada, Estados Unidos da América. Cavalos selvagens, aridez, secura, imagens de rara beleza e, claro, vários actores extraordinários: Marilyn Monroe, Clark Gable, Montgomery Clift, Thelma Ritter e Eli Wallach.

Além disso, diálogos intensos, profundos, argumento de Arthur Miller (então ainda casado com Marilyn Monroe), pura poesia sobre um tempo que termina ou que nunca chegou a começar. Terminal. Puro. Autêntico. Livre, de uma liberdade e tristeza arrebatadoras. Arthur Miller, um dos maiores dramaturgos do século XX, desenvolveu diálogos fortíssimos. John Huston iluminou o rosto de todas as personagens, especialmente o de Marilyn Monroe de quem não se consegue desviar o olhar e que nos tira literalmente o fôlego.

Marilyn Monroe entra verdadeiramente na personagem, quando está em cena ninguém consegue ficar indiferente, luminosa, bela, mais do que isso, sempre em pose (nela isso importa tão pouco), com o rosto e movimentos do corpo que atraem automaticamente os olhos de qualquer um de nós. "Ser um símbolo sexual é muita responsabilidade, especialmente quando se está cansada, magoada e vulnerável". No filme e na vida real. Clark Gable afirmou que tudo que ela faz é diferente de qualquer outra mulher, tudo nela é estranho, tudo nela é excitante, desde a forma como fala, a forma como se movimenta, como se contorce, como sorri, como de tão triste que é consegue fazer qualquer homem que esteja na sua presença sorrir. Montgomery Clift, outro grande actor, desliza no filme, com um olhar triste e vazio. Marilyn Monroe afirmou que Montgomery Clift era única pessoa que conhecia que estava em pior estado do que ela própria. Thelma Ritter, eterna personagem secundária, várias vezes nomeada ao Oscar de melhor actriz secundária, acompanha no filme Marilyn Monroe com uma subtileza singular. Todos brilhantes, todos com um destino fatal próximo. Clark Gable morreu logo após a conclusão das rodagens (1960); Marilyn Monroe não fez mais nenhum filme (o filme que iniciou “Something Got to Give", George Cuckor, nunca foi concluído) e teve uma morte trágica (1962); Montgomery Clift entrou num processo de decadência física e profissional e morreu com 45 anos (1966). Tudo isto, a par de todo o resto, ajudou a sublinhar a obra-prima que é “The Misfits”.

Se estamos perante uma raridade? A mim parece-me que estamos perante um dos mais belos filmes de todos os tempos.


The Misfits, 1961
John Huston



12/07/09

Love Story


Ali MacGraw (Jennifer Cavalleri) & Oliver Barrett IV (Ryan O'Neal)


Uma das mais belas histórias de amor filmadas, uma das mais populares, ideal para rever num domingo à tarde. Ali MacGraw e Ryan O'Neal são um casal apaixonado. Comovente interpretação. Esta história de 1970, sobre o grande amor de uma vida, foi o filme de maior sucesso da Paramount até àquele época, recebeu sete nomeações para o Oscar (incluindo Melhor Filme, Actor e Actriz) e ganhou o Oscar pela música de Francis Lai. "Amar significa nunca ter de pedir desculpa".

Love Story, 1970, Arthur Hiller

...

Toda a acção é necessariamente mal conhecida. Para que não expressemos contradições de momento a momento, precisamos de uma máscara - como acontece se quisermos ser sedutores. Mas é preferível conviver com os que mentem conscientemente, porque esses também sabem ser verdadeiros conscientemente. Porque, a sinceridade habitual não passa de uma máscara, da qual não temos consciência.
Friedrich Nietzsche
'A Vontade de Poder'

09/07/09

código desconhecido

Não tenho escrito nada. Não tenho tido tempo. Adormeço cedo. Acordo cedo. Trabalho, mais trabalho, igualmente trabalho e quase só trabalho. Não posso afirmar isto, perigoso, mas afirmo, ainda assim. Se comento, ouço sempre o mesmo: ainda bem, estamos em tempo de crise. Pois, e alguém se queixa do excesso do trabalho por pesar, digo, os profissionais liberais? Não. Ou se sim não. Óbvio. Desabafos, meros desabafos. Isto é generalizado, não podemos comentar muita coisa. A conhecidos, ou desconhecidos. Tenho esta tendência, de falar, de escrever, de dizer o que bem me apetece, sobre mim; mas, também, de ouvir, de pensar, de respeitar os outros naquilo que falam e desabafam comigo. Sem moralismos, sem opinar se fazem ou não fazem bem, se têm ou não têm razão. Em frente aos visados, claro. Os pensamentos, esses podem voar. Os amigos, esses podemos, mas ainda assim só se pedirem. As pessoas, em regra, gostam de desabafar. Os outros, em regra, gostam de opinar. Se fosse eu! Absurdo. Incoerente. Não há códigos conhecidos. Nem desconhecidos. Só pensar em nós para respeitar os outros. Não ter medo. Sobretudo isso. Respeito e ausência de medo. Tudo brotaria muito melhor. Código desconhecido. As inconfidências são cada vez menos. Os desabafos, pior. Stop. A escrita, essa, há tantos outros assuntos.

04/07/09

Pina Bausch

Pina Bausch, 68 anos, morreu no dia 30 de Junho de 2009, vítima de cancro. "Cada vez que morre um criador, o mundo fica menos luminoso", afirmou Maria João Seixas, sua amiga. Sem mais palavras, aceito. Masurca Fogo foi a coreografia que fez para a Expo 98. Eu estive lá, mas não vi. Pena. Preciso de ir a Lisboa para assistir ao que não vem aqui ao Porto. Vou empurrar gente do Porto para minha companhia. Pina Bausch gostava de Lisboa, de ir a casas de fado e de se deitar tarde. Lisboa, li, fazia-a sorrir. Eu sorri sempre que a vi, nomeadamente, em Hable Con Ella de Pedro Almodóvar. Sempre com doses de melancolia (sou português). Sempre com emoções em catadupa. Sempre com muito riso e alegria embora às vezes não aparente. Pina Bausch ainda dançava.

30/06/09

Paris, Texas


Aos dezoito anos vi, com uma grande amiga, pelo menos a que sentiu as mesmas minhas emoções, as três cenas do filme Paris, Texas, as que ficam aqui registadas. É o filme das nossas vidas, o meu e o dela, desde esses nossos dezoito anos. Nenhum filme, até ao momento, a mim, me causou tanta emoção ao sair de um cinema, o Charlot, hoje inexistente. Viemos a cambalear, os dois, tamanha a emoção, por aquele cinema abaixo, no fim do filme. Claro, eu já estava apaixonado pela Nastassja Kinski. Claro, ficamos esgotados com a actriz (eu), com o deserto, com a música, com os silêncios, com a solidão daqueles grandes espaços desérticos, absolutamente áridos, filmados por Wim Wenders. Por tudo ! Nunca mais fez um filme assim, o realizador. Também, não é fácil chegar tão longe. Aqui fica um bombardeamento de imagens e cenas do filme. Lembras-te?

first cabin scene

second cabin scene and the end





28/06/09

As tears go by

Mick Jagger/Keith Richards
Vanessa Paradis

eu e os outros, os outros e eu

Comovi-me. Sim, não é difícil, a emoção apoderou-se mais uma vez. Falei com várias pessoas, daquelas que vão de um extremo ao outro. Tudo começou num bar da moda, gente politicamente correcta, gente com aparência de tudo aquilo que quer parecer o que não é. Hollywood de Portugal. Na pior das hipóteses. Ironias à parte. Gente, aparência, mau gosto, bom gosto, aragem, tudo com o parecer que tudo é assim que deve ser mas nada deve ser como aquilo. Incongruências. Incertezas. Deles, não minhas. Inconfidências, essas minhas. Não sou quem deveria estar ali, a minha imagem correspondia, a cabeça não. Depois saí, cansei-me, decidi aceder a um convite feito há muitos tempos. Há tempos demais, nunca acedi, o meu mundo também não é aquele. Mas acedi. Fui. E fui muito bem tratado, bem mais tratado do que noutro sítio qualquer. Gente genuína, gente com emoção, gente com coração. E isso é tão importante. Isso, das boas pessoas, da boa gente, mesmo que não seja gente como nós, como eu, mas gente com coração. E, por mais trivial, gosto disso. Aqui foi o oposto. Ou seja, a minha imagem não correspondia, a cabeça era emoção. Vou ter de filmar estas coisas, o tempo ainda dá tempo. O tempo dá sempre tempo. Se soubermos e se quisermos. E quero, claro. Nada mais, pouca coisa mais, mas senti-me livre. Livre e com vontade de parecer aquilo que realmente quero ser. Verdadeiro. Honesto. Leal. E são essas coisas que me fazem respirar. Essas e as que tenho em casa. E nada é incompatível desde que tudo seja como no poema da Sophia de Mello Breyner Andresen. Eu e os outros. Os outros e eu. Afinal, tudo tão simples.

27/06/09

...


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen

26/06/09

Michael Jackson & Farrah Fawcett



Não há belas, nem monstros, há estrelas, há pessoas, o Rei da Pop (não há como ele) e a eterna Anjo de Charlie (a mais bela das três). Momentos da minha juventude. Pessoas que passaram pelas nossas vidas e nelas permanecem pela sua aura e pelo seu legado. Não há mais ou menos estrelas. Só pessoas. Estas morreram no mesmo dia: 25 de Junho de 2009. Ficam bem aqui, juntos. Michael Jackson ! 2 de Agosto de 1958 - 25 de Junho de 2009. Farrah Fawcett ! 2 de Fevereiro de 1947 - 25 de Junho de 2009. E como a vida real é sempre mais sinistra do que as histórias dos filmes, apetece-me rever Love Story ! Where do I Begin ?

24/06/09

São João




Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João. Porque há S. João onde o festejam. Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.
Noite de São João
Alberto Caeiro

16/06/09

A Streetcar Named Desire

Há três peças de teatro, adaptadas ao cinema, do dramaturgo americano Tennessee Williams, absolutas obras-primas. Há outras, mas lembro-me especialmente destas três: “Um Eléctrico Chamado Desejo” (Elia kazan, 1951); “Gata em Telhado de Zinco Quente” (Richard Brooks, 1958); “Subitamente, no Verão Passado” (Joseph L. Mankiewicz, 1959). Todas estas peças de teatro foram transpostas para o cinema por grandes realizadores, génios na realização e na direcção de actores - especialmente, quanto a este último aspecto, Elia kazan, fundador, juntamente com Robert Lewis e Cheryl Crawford , do famoso Actors Studio. Todas estas peças abordam questões como a homossexualidade, o canibalismo, a castração, o desejo sexual, a frustração, o impulso animal do homem/mulher, homem/homem, como objecto de desejo e na maioria das vezes desilusão. Recalcamentos, resistência a sentimentos profundos que levam à morte ou à loucura. Nos filmes foram impostos cortes profundos em vigor no cinema americano da época, ainda hoje. Estas questões não podiam ser desenvolvidas de forma explicita. Importante, se queremos perceber bem os filmes, sem paternalismos ou arrogância intelectual, a leitura das peças, embora tudo esteja nos filmes de uma forma muito subtil. Ora, ontem, revi “Um Eléctrico Chamado Desejo”. Não é, dos três referidos, o meu preferido. “Bruscamente, no Verão Passado” é a obra-prima destas três obras-primas. Mas é um grande filme. Antes, uma grande peça de teatro pois Elia kazan não se preocupou na realização de um filme mas na transposição para o cinema de um espaço cénico. Nessa sequência, o papel primordial dos actores, da interpretação dos actores que encarnam cada uma das personagens, dos actores principais aos secundários. Por isso, a chuva de Óscares (ou nomeações para) nas interpretações principais e secundárias. A peça, o filme, desenrola-se em Nova Orleães e centra-se na personagem Blanche DuBois, vulnerável, instável, romântica, uma mulher que terá sido belíssima noutra época (sabemos que sim), em declínio, altamente vulnerável e abalada emocionalmente, profundamente abalada - Vivien Leigh sublime! Ela visita a sua irmã Stella Kowalski, casada com Stanley Kowalski, um homem rude, básico, bruto, suado, agreste, selvagem - brutal e devastador Marlon Brando! Um total confronto de personalidades, um ódio mútuo e recíproco. Aparentemente. Não é evidente a atracção física e sexual entre Blanche DuBois e Stanley Kowalski mas ela está implícita em todas as cenas. Mesmo que de maneira pouco clara (ou não). Está na peça, a censura mandou retirar. Com o desenrolar da acção percebemos que o passado de Blanche DuBois não é exactamente o que parece e intuimos que algo de trágico se vai passar. Intensa e arrebatadora, a empatia do público com a personagem Blanche DuBois vai aumentando à medida que percebemos que é uma mulher perdida e sofredora. Vítima de muitos homens, vítima de Stanley Kowalski, vítima de uma sociedade repressora, moralista e hipócrita, vitima dos outros, vitima de si própria. “Eu sempre dependi da bondade de desconhecidos”, diz Blanche DuBois. E estas coisas não mudam, são muito mais os desconhecidos que trazem bondade do que as pessoas que nos adulam. Nunca podemos depender da bondade de estranhos, sequer da bondade dos amigos ou de quaisquer outros. Mais vale dá-la. Sempre nos tornamos melhores.


A Streetcar Named Desire, 1951
Elia Kazan

11/06/09

Milk

O que ocorre desde logo, depois de ver Milk, são os nomes de Sean Penn e de Gus Van Sant. Sean Penn, actor, excelente, muita flama. Emoção. Muita emoção. Esquecemo-nos quem é, interiorizamos logo o homem que interpreta, Harvey Milk, isso chama-se ser actor, extraordinário actor. Gus Van Sant, realizador, exactidão, força, energia, excelência na forma, contéudo, narrativa. Fulgor desde o inicio ao fim e o fim não é assim tão próximo. São 130 minutos de filme a contar a história do primeiro homem assumidamente gay a ser eleito num cargo público na Califórnia. Mais do que a defesa do direito dos homossexuais assistimos no filme à defesa de direitos humanos, das minorias, dos afastados do convencional. E são filmes como este, interpretações como esta, histórias como esta, que nos ajudam a crescer mais e melhor, que nos ajudam a tornarmo-nos homens com algumas qualidades. Como diz Harvey Milk : “(…) sem esperança os excluídos desistem. E eu sei que não se vive apenas de esperança, mas sem esperança não vale a pena viver (…)”. Subscrevo. Obra-prima? Sim, é. E já não é a primeira de Gus Van San (Elephant, 2003). E também já não foi o primeiro Oscar de Sean Penn ( Mystic River, 2003, Clint Eastwood). Aqui não há coincidências. Há talento.
Milk, 2008
Gus Van Sant