18/05/08

ondas de paixão

Escrever sobre um filme como Breaking The Waves é uma tarefa árdua, difícil, perturbadora e muito arriscada. São mesmo várias ondas a quebrar rochedos, a bater forte, no nosso peito, na nossa alma. É, antes de mais, um filme de uma beleza extraordinária e a todos os níveis: a realização (Lars Von Trier gosta de nos dar socos valentes), a música, os actores, a arrebatadora personagem Bess (Emily Watson, excepcional), também o marido Jan, a cunhada, tudo é perfeito, tudo é empolgante, tudo é demolidor. Rever este filme, numa altura destas, da minha vida, onde o Amor é apresentado com uma total entrega, sem qualquer resistência, sem qualquer preconceito, sem pedir ou exigir nada em troca, com total abnegação, até confundir tudo isso com um ser não normal, é verdadeiramente perturbador, comovente e belo. Quem é capaz de agir assim por Amor? Será a personagem “estúpida”, como lhe chamam, ou apenas uma pessoa “boa”, como refere o médico de Bess quando o questionam do que ela padece? Será isto real, irreal, existir uma pessoa assim, ou será ela apenas uma anormal, uma imbecil? Não me quero prolongar mais sobre o filme, sobre a emoção de ver um filme como este, sobre o Amor visto sob este ponto de vista, visto até ao limite, até à morte, contra tudo, contra todos. Como estamos num diário, quero ainda referir que quando as coisas são demasiados irreais, porque demasiado fortes, ou por outras razões, a vontade é fugir, a vontade é a de não continuar. E só se continua com uma certeza, e com uma certeza que tem de ser absoluta: as vontades têm de ser absolutamente afins, rigorosamente iguais. Se não o forem pode existir desistência. Existiria pelo menos uma renúncia: a minha. A personagem do filme não fugiu, não renunciou, morreu ...
Breaking The Waves, Lars Von Trier, 1996

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