15/06/08

A Outra Margem

Foi uma agradável, enorme e entusiasmante surpresa. A que acabei de ter. Ver um filme, português, como a “A Outra Margem”, premiado em vários festivais de cinema, sem contar o que ia ver, comoveu-me, emocionou-me e levou-me às lágrimas. Luís Filipe Rocha é o realizador, o autor dos diálogos e do argumento. Os três actores principais, Maria D´Aires, Filipe Duarte e Tomás de Almeida são arrebatadores. A música, Pedro Teixeira Silva, Xutos e Pontapés, Amália Rodrigues e mais, comove, verga-nos de comoção. Os temas abordados são feitos de uma forma tão pujante, tão autêntica, tão sem margem, que me atrevo a afirmar que é um dos melhores filmes portugueses que já vi. Luís Filipe Rocha conta uma história, portuguesa, sem medo, para mim uma das melhores e mais bem contadas histórias no cinema português. É um filme luminoso, filmado entre Amarante (a terra vizinha dos meus antepassados), o Alentejo (a terra de minha eleição) e Lisboa. Reconheci todas aquelas ruas, praças, a ponte, as pedras das calçadas e o rio Tâmega da “Princesa do Tâmega”. Reconheci a planície alentejana, o branco, o amarelo e o dourado daquele lugar. Reconheci muitas outras coisas. Identifiquei-me com as três personagens, o Ricardo (outra surpresa, Filipe Duarte) pela sua tristeza e pelo seu desconcerto, o Vasco (mais surpresa, tão “nito” o Tomás de Almeida) pela sua alegria e pela sua sensibilidade e a Maria (Maria D´Aires, sem surpresa, que cara extraordinária!) pela sua generosidade e pelos enormes afectos que dedica a quem ama. É, sobretudo, uma bela história de afectos, de encontros, de estigmas, de normalidade na anormalidade aparente, daqueles que se encontram na outra margem mas que afinal é também a nossa, a de todos. É “nito”, muito, muito “nito”, como diz o Vasco do filme às pessoas de quem gosta. E eu gostei. Muito. Como diz uma das personagens do filme “o fogo liberta os que partem e aquece os que ficam”. Palmas. Palmas. E mais palmas. Estou muito aquecido.

A Outra Margem, 2007
Luís Filipe Rocha

Nota de Intenções

"A Homossexualidade e a síndrome de Down são, ainda hoje, estigmas que exilam seres humanos para a outra margem da vida. A moral tradicional na mentalidade dominante é, ainda hoje, causa incontornável de exclusão e afastamento. Iluminar e exibir a humana normalidade dos “anormais” é confrontar os “normais” com a sua própria e intima “anormalidade”. É propor uma ponte de compreensão entre as duas margens.”

Luís Filipe Rocha

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