Uma tragédia, uma comédia, um trilher, um psicopata à solta, um atrapalhado caçador de dois milhões de dólares e outros animais, um xerife local demasiado velho para perceber o que se está passar, os Irmãos Coen a não nos deixarem perceber bem tudo quanto está a suceder (ou o autor do livro – uma vez que se trata de uma adaptação fiel do livro de Cormac McCarthy), tudo muito frontal, subtil ao mesmo tempo, uma miscelânea de todas estes ingredientes, filmado de uma forma mais do que brilhante na paisagem mítica do western, com personagens tipicamente americanas, com muito sangue, com o mal a vencer sempre o bem, muito mais. Alguém percebe os hediondos crimes actuais, o prazer brutal do acto: matar? É para perceber porque é que acontecem tantos assassinatos? Tem algum sentido a personagem de Javier Bardem escolher, aleatoriamente, quem quer ou não quer matar, cara ou coroa, depois decide, mesmo assim, mesmo que perca a aposta? Capricho, só o sujeito, o resto não importa. Javier Bardem, espanhol, mais americano de qualquer outro neste filme, está monstruosamente grandioso. Tommy Lee Jones perdido, como eu, como nós, naquela terra que já não é para velhos. Josh Brolin, um atrapalhado mas convencido que vai conseguir abater o tresloucado psicopata à solta. Personagens secundárias absolutamente hilariantes dando um tom de comédia no meio de toda a carnificina. Os Irmãos Coen conseguem sempre baralhar, o non-sense ou uma alucinação. Isto é a sério ou é uma anedota? Isto é real, ou uma alegoria? Não deixa de ser uma apreciação subjectiva (claro) pessimista do mal sempre a sair triunfante. Mas, ainda com alguma esperança, e por um mero acaso, o mal é trucidado por um aparente desconhecido carro num cruzamento não planeado. Claro, depois de tudo já morto e a apodrecer. Já vi melhor, já gostei mais de outros filmes, mas os Coen estão sempre para além do muito bom. A realização é primorosa, o ritmo narrativo implacável e de difícil mas rápido acompanhamento, as metáforas e demais figuras de estilo sempre presentes nos seus filmes. Aplausos, claro.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário