E porque hoje é domingo, e porque não me apetece fazer a ponta do raio de um corno, e porque só quero pastar ao sol na varanda frente ao mar, e porque não quero que me chateiem, e porque só quero fazer coisas que me dêem prazer, e porque estou cansado, e porque também estou descansado e em paz, e porque não me apetece pensar por mim mas só espreitar os pensamentos de outros, deixo aqui transcritas algumas frases do prefácio do livro que vai abaixo. Só. Obrigado, Madalena. Nem sempre os conselhos se dão só quando se pedem - muitas vezes são muito bem-vindos mesmo quando não. E bom domingo. O dia mais desconforme da semana.
"A misteriosa fragilidade dos vínculos humanos, o sentimento de insegurança que ela inspira e os desejos contraditórios (estimulados por tal sentimento) de apertar os laços e ao mesmo tempo de os manter frouxos, é o que este livro procura esclarecer, registar e apreender (…).
O principal herói deste livro é o relacionamento humano. Os seus personagens centrais são homens e mulheres, os nossos contemporâneos, desesperados por terem sido abandonados aos seus próprios sentidos e sentimentos facilmente descartáveis, ansiando pela segurança do convívio e pela mão amiga com que possam contar num momento de aflição, desesperados por “se relacionarem”. E, no entanto, desconfiados da condição de “estar ligado”, em particular de estar ligado “permanentemente”, para não dizer eternamente, pois temem que tal condição possa trazer encargos e tensões para que eles não se considerem aptos nem estão dispostos a suportar e que podem limitar severamente a liberdade de que necessitam para – sim – se relacionarem …
No nosso mundo de furiosa “individualização”, os relacionamentos são bênções ambíguas. Oscilam entre o sonho e o pesadelo, e não há como determinar quando um se transforma no outro. Durante a maior parte do tempo, esses dois avatares coabitam – embora em diferentes níveis de consciência. No líquido cenário da vida moderna, os relacionamentos talvez sejam os representantes mais comuns, agudos, perturbadores e profundamente sentidos da ambivalência.
“Relacionamento” é o assunto mais quente do momento e, aparentemente, o único jogo que vale a pena, apesar dos seus óbvios riscos.
A complexidade é demasiado densa, persistente e difícil para que possa ser decifrada ou esmiuçada sem auxílio (…). O que esperam ouvir deles (... dos especialistas que oferecem os seus préstimos em troca de honorários ... ) é algo como a solução do problema da quadratura do círculo: como comer o bolo e ao mesmo tempo conservá-lo; como desfrutar das doces delícias de um relacionamento evitando, simultaneamente, os seus momentos mais amargos e penosos; como forçar uma relação a permitir sem desautorizar, satisfazer sem oprimir …
Como estabelecer um relacionamento ou – só por precaução – como rompê-lo sem dor e com a consciência tranquila?
Este livro é dedicado aos riscos e ansiedades de se viver junto, e separado, no nosso líquido mundo moderno."
"A misteriosa fragilidade dos vínculos humanos, o sentimento de insegurança que ela inspira e os desejos contraditórios (estimulados por tal sentimento) de apertar os laços e ao mesmo tempo de os manter frouxos, é o que este livro procura esclarecer, registar e apreender (…).
O principal herói deste livro é o relacionamento humano. Os seus personagens centrais são homens e mulheres, os nossos contemporâneos, desesperados por terem sido abandonados aos seus próprios sentidos e sentimentos facilmente descartáveis, ansiando pela segurança do convívio e pela mão amiga com que possam contar num momento de aflição, desesperados por “se relacionarem”. E, no entanto, desconfiados da condição de “estar ligado”, em particular de estar ligado “permanentemente”, para não dizer eternamente, pois temem que tal condição possa trazer encargos e tensões para que eles não se considerem aptos nem estão dispostos a suportar e que podem limitar severamente a liberdade de que necessitam para – sim – se relacionarem …
No nosso mundo de furiosa “individualização”, os relacionamentos são bênções ambíguas. Oscilam entre o sonho e o pesadelo, e não há como determinar quando um se transforma no outro. Durante a maior parte do tempo, esses dois avatares coabitam – embora em diferentes níveis de consciência. No líquido cenário da vida moderna, os relacionamentos talvez sejam os representantes mais comuns, agudos, perturbadores e profundamente sentidos da ambivalência.
“Relacionamento” é o assunto mais quente do momento e, aparentemente, o único jogo que vale a pena, apesar dos seus óbvios riscos.
A complexidade é demasiado densa, persistente e difícil para que possa ser decifrada ou esmiuçada sem auxílio (…). O que esperam ouvir deles (... dos especialistas que oferecem os seus préstimos em troca de honorários ... ) é algo como a solução do problema da quadratura do círculo: como comer o bolo e ao mesmo tempo conservá-lo; como desfrutar das doces delícias de um relacionamento evitando, simultaneamente, os seus momentos mais amargos e penosos; como forçar uma relação a permitir sem desautorizar, satisfazer sem oprimir …
Como estabelecer um relacionamento ou – só por precaução – como rompê-lo sem dor e com a consciência tranquila?
Este livro é dedicado aos riscos e ansiedades de se viver junto, e separado, no nosso líquido mundo moderno."
AMOR LÍQUIDO
Zygmunt Bauman
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