08/12/10

Poetry





Poetry”, Lee Chang-dong, outra boa surpresa depois de “Des Hommes et des Dieux”, Xavier Beauvois. Estiveram os dois em competição em Cannes e, estranhamente, começo a perceber porque é que a Palma de Ouro foi atribuída ainda a um outro terceiro – o tão estranho “Uncle Boonmee, recalls his many past lives”, Apichatpong Weerasethakul.

Poetry” é a comovente história de uma avó que se interessa por poesia ao mesmo tempo que descobre que tem Alzheimer e que o neto de 16 anos (de quem cuida sozinha) poderá estar envolvido numa coisa muito má. A personagem - estranha personagem que nunca se chega a descobrir (ela e nós) - a par da descoberta da poesia descobre também a imoralidade do que a rodeia e de que nem tudo são como as flores que como ela diz: "amo-as e fico feliz só por vê-las". Nem tudo é assim, ou quase nada é assim, ou é mesmo muito difícil que as coisas sejam assim. Como diz o professor de poesia no filme: “não é difícil escrever um poema; difícil é ter coração para o escrever”. O difícil sempre em tudo é não sermos verdadeiros e deixarmos que as coisas piores se sobreponham às melhores. É uma evidência que estamos sempre a esquecer. Este é um filme que procura descobertas mas onde se descobre muito pouco ou quase nada. Este é um filme muito longo e às vezes demasiado estático e previsível. Mesmo assim, é um longo e bonito poema.


“Esta é uma época em que a poesia está a morrer. Alguns lamentam essa perda, outros dizem que ela merece morrer. Ainda assim, as pessoas continuam a ler e escrever poesia. E uma pergunta que faço como cineasta: o que significa fazer filmes num tempo em que os filmes estão a morrer?”
Lee Chang-dong

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