10/10/10

"Antes um final angustiado do que uma vida de angústia”. Foi Ahmad que, ao dizer isto, involuntariamente revelou a Elly o exacto sentido do seu futuro, para ela sem alternativas num “establishment” que secundariza e estigmatiza as mulheres. Em termos lineares, “Darbareye Elly” (em português dará qualquer coisa como “À procura de Elly”) é a história de um grupo de amigos que passa um fim de semana numa casa junto ao mar. Todos eles e todos os seus hábitos são banais e em cada pormenor revelam as dimensões afectivas, sociais e humanistas típicas de “gente a sério” : não fossem os “hijab” das mulheres e o aspecto decrépito da casa de férias e poderíamos estar a contemplar um quadro banal de alguns europeus em férias. E mais alguns detalhes, revelados subtilmente ao longo do filme, como a agressão de Amir à sua mulher Sapideh, em estado de desespero por não saber o que ela sabe e quanto sabe sobre o desaparecimento de Elly: o momento em que os modelos morais islâmicos falam mais alto do que a razão através dos estados de alma. O guião é magnífico: o mistério revela-se a conta-gotas e tanto nos confunde nas pistas como nos põe a adivinhar sobre o que de facto aconteceu, até que percebemos que só uma hipótese é possível: a liberdade. Tudo relevado sem facilidades e sem maniqueísmos. Para coroar, o filme tem uma outra vantagem apreciável: é um excelente “espanta-preconceitos” para quem olha o Irão do “alto da Europa. “Tudo isto estava escrito. Ninguém tem culpa.”. Urso de Prata no Festival de Berlim. Um must-see.

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