31/07/09

repouso

Farto de trabalhar, cansado, assim como assim, vou de férias. Estou nesta piscina, por uns tempos. Não que isso importe, importa a mim. Vou voltando, sempre que apetecer !

28/07/09

Última Parada 174

Inspirado no documentário de José Padilha (2002), “Última Parada 174”, nas palavras do realizador, é um filme “sobre a condição humana e não sobre a condição social do Brasil”. Apesar destas palavras, ditas pelo próprio realizador, não posso concordar com a última parte. Melhor, é um filme mais sobre a condição humana do que sobre a condição social do Brasil. Ou foi até mesmo isso que Bruno Barreto quis dizer. Favela, tráfico, morte, sangue, massacre da Candelária, toxicodependência, cheira cola, assaltos, meninos de rua, Copacabana, violência, marginalidade, tudo é narrado com absoluta crueza, com uma desumanidade que fere, realidade ou ficção, para nós, os não brasileiros, parece ficção. Não pode ser assim como estamos a ver! Mas é. Será. O desinteresse total pela vítima, a indiferença absoluta pela morte. A mim parece-me o Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa. Estive lá, pressenti. Desculpem. O filme é sobre a condição humana. O filme é sobre a condição social do Brasil. A história, baseada em acontecimentos reais, muito ficcionada, conta o trajecto de uma mãe que perde um filho e de um filho que perde a mãe. É a história de Sandro, de como ele parte para Copacabana, zona Sul do Rio, de como ele deambula pelo centro do Rio, de como vive na rua à beira da Igreja da Candelária, de como sobreviveu ao massacre que aí ocorreu e a outros massacres noutras favelas do Rio, das suas aventuras e desventuras, das prisões cariocas onde esteve, de um menino que ninguém vê, que ninguém quer ver. O Rio não pode ser isso, não queremos que seja, o Rio é a Cidade Maravilhosa. Ambos, o filho e a hipotética mãe, lutam contra a invisibilidade social. A mãe conforma-se e refugia-se nas igrejas paralelas e em Deus; o menino quer que o vejam - ninguém o vê, que o queiram - ninguém o quer. A invisibilidade social não pode permitir tudo, não pode permitir as imagens a que vamos assistimos, não podem sobretudo desculpabilizar tamanha violência. Algo está mal. O quê? O Rio de Janeiro é a cidade mais bonita do mundo, ainda por cima, e isso torna tudo ainda mais chocante. Sandro conseguiu visibilidade da pior forma, o título do filme (no original) significa exactamente isso. Foi a sua última parada, o autocarro 174. E, nesse dia, em directo, todas as televisões do mundo o viram. Arnaldo Jabor, jornalista e cineasta, que muito admiro, não tem medo, não quer esconder a sua cidade (o seu país), e refere a propósito desta história: "Ônibus 174, além de ser um dos melhores filmes de nosso cinema, é um crescimento para nossa consciência política. Vejam esse filme, vejam esse filme, chorem com ele! Falem para todos que não dá mais pé vermos o show da miséria que começa com menininhos fazendo malabarismos nos sinais de trânsito e termina tratando-os como ratos mortos à nossa frente." Não sei se o disse a propósito deste filme ou do documentário de José Padilha. Mas demonstra coragem, demonstra consciência. Como dizia Jean Jacques Rousseau: "O homem nasce bom e a sociedade corrompe-o". Se há outros filmes sobre favelas, tais como, Cidade de Deus e Tropa de Elite, mais bem conseguidos, mais geniais? Se temos sido bombardeados com este tipo de assuntos pelo novo cinema brasileiro? Sim, há. Sim, são. Sim, somos. Mas isso pouco importa. Este é um bom filme. Este é um muito bom filme para ver.

Última Parada 174, 2008
Bruno Barreto



Curiosidade: Bruno Barreto e Arnaldo Jabor são meus “velhos conhecidos”. O primeiro fez o filme “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976); o segundo fez o filme “ Eu te amo” (1981). Sónia Braga era a estrela em ambos. E cheirava a cravo e a canela. Dava para sentir !

27/07/09

Happy Go Lucky

Onde estivemos?
Para onde vamos?
Qual o sentido da vida?
O que nos faz feliz?
Eu sou feliz. Pode ser duro, às vezes, mas faz parte. Tenho um óptimo trabalho, amigos incríveis.
Não se pode fazer toda a gente feliz.
Não custa tentar.
Eu sou feliz.
Só?
E já não é muito?
Happy Go Lucky, 2008
Mike Leigh

23/07/09

super orgulho de pai


513 votos comentários
"A primeira pergunta que se faz ao Benfica é: como é que foram comprar um jogador que na época anterior tinha realizado 57 minutos e considerar uma grande aposta?! E ainda por cima, contratarem-no por 4 milhões de euros! Os adeptos do Benfica deviam logo aí pensar duas vezes antes de ficar muito felizes com a contratação deste pseudo-jogador. E depois, por ele não jogar, assobiam. Coitado do homem. Que culpa tem ele de o treinador não o pôr a jogar? Ele não iria fazer exibições fantásticas, não tinha ritmo. E num simples ano, um jogador que era considerado uma grande aposta, passa para um jogador que ao todo o custo tem de sair do clube".
Publicado num site de desporto/futebol. O melhor comentário do dia! Super orgulho de pai.
Autor (...). Pois, "obrigaram-me" a retirar.

W Delta Z

Gosto de filmes de terror. Esvaziam a cabeça, não nos deixam pensar em nada, fazem-nos por tempos esquecer que o mundo real existe. Não que o mundo real seja mau, antes pelo contrário, mas às vezes preciso em não pensar em nada. Ora, os filmes de terror são projectados, de quando em vez, no meu cinema privado, em casa. Como ninguém aprecia, lá por casa, acabo por vê-los sozinho e na maioria das vezes apanho grandes banhadas. Além de filmes de terror assisto a verdadeiros filmes gore. Malogro total. Mesmo assim persisto e alugo filmes deste género, sobretudo em alturas como esta em que não tenho tempo para grande coisa. Mais uma vez o fiz, completamente ao calhas, e trouxe esta matemática da morte. Vários corpos são encontrados nas ruas da cidade de Nova Iorque, mutilados, com a equação WAZ gravada na pele morta dos assassinados. O início é o costume, uma dupla de detectives, um mais velho e experiente, outra, a parceira mais nova, bonita (supostamente) e inexperiente. Não vou descrever o argumento, algo original, mas atirar com a pergunta que surge logo quando a dupla descobre o significado da equação WAZ. Qual o limite da dor que suportaríamos se estivéssemos em frente da pessoa que mais amassemos e soubéssemos que seria morta quando já não aguentássemos mais a dor que nos estão a infligir? Matar a pessoa que mais amamos ou sermos mortos? Parece vulgar, contado assim, mas o filme não é (só) de terror. Trata-se de uma história de amor. E é nisso que se distingue dos milhares de filmes de terror todos aparentemente iguais. O melhor do filme: o actor principal Stellan Skarsgard. Aqui em ondas de paixão bem diferentes de Breakinkg The Waves. O pior do filme: a ideia foi boa mas não deixamos de pensar que é mais um frustrante filme de terror que não é de terror. Não pensei em mais nada, durante o filme, e gostei das últimas cenas. E Isso já é bom.

Waz, 2007
Tom Shankland

18/07/09

The Misfits

Após o divórcio, uma jovem solitária (Marilyn Monroe) conhece dois cowboys (Clark Gable e Eli Wallach). Os dois hipnotizam-se por ela, a jovem interessa-se por um deles (Clark Gable), aquele que mais simboliza a liberdade que ela nunca teve. Aparece um terceiro cowboy(Montgomery Clift) e os três partem para as montanhas à procura de cavalos selvagens. Descobrem, na imensidão daquelas montanhas que, apesar das suas diferenças, partilham das mesmas necessidades, dos mesmos traumas, todos inadaptados à vida comum, todos profundamente tristes.

John Huston, o realizador, fez o filme, um puro clássico, uma verdadeira obra-prima. Um belíssimo filme, um filme de culto, mítico, um filme realizado em total e plena liberdade, um filme de busca de felicidade, que persiste não chegar, na imensidão de um deserto, no Nevada, Estados Unidos da América. Cavalos selvagens, aridez, secura, imagens de rara beleza e, claro, vários actores extraordinários: Marilyn Monroe, Clark Gable, Montgomery Clift, Thelma Ritter e Eli Wallach.

Além disso, diálogos intensos, profundos, argumento de Arthur Miller (então ainda casado com Marilyn Monroe), pura poesia sobre um tempo que termina ou que nunca chegou a começar. Terminal. Puro. Autêntico. Livre, de uma liberdade e tristeza arrebatadoras. Arthur Miller, um dos maiores dramaturgos do século XX, desenvolveu diálogos fortíssimos. John Huston iluminou o rosto de todas as personagens, especialmente o de Marilyn Monroe de quem não se consegue desviar o olhar e que nos tira literalmente o fôlego.

Marilyn Monroe entra verdadeiramente na personagem, quando está em cena ninguém consegue ficar indiferente, luminosa, bela, mais do que isso, sempre em pose (nela isso importa tão pouco), com o rosto e movimentos do corpo que atraem automaticamente os olhos de qualquer um de nós. "Ser um símbolo sexual é muita responsabilidade, especialmente quando se está cansada, magoada e vulnerável". No filme e na vida real. Clark Gable afirmou que tudo que ela faz é diferente de qualquer outra mulher, tudo nela é estranho, tudo nela é excitante, desde a forma como fala, a forma como se movimenta, como se contorce, como sorri, como de tão triste que é consegue fazer qualquer homem que esteja na sua presença sorrir. Montgomery Clift, outro grande actor, desliza no filme, com um olhar triste e vazio. Marilyn Monroe afirmou que Montgomery Clift era única pessoa que conhecia que estava em pior estado do que ela própria. Thelma Ritter, eterna personagem secundária, várias vezes nomeada ao Oscar de melhor actriz secundária, acompanha no filme Marilyn Monroe com uma subtileza singular. Todos brilhantes, todos com um destino fatal próximo. Clark Gable morreu logo após a conclusão das rodagens (1960); Marilyn Monroe não fez mais nenhum filme (o filme que iniciou “Something Got to Give", George Cuckor, nunca foi concluído) e teve uma morte trágica (1962); Montgomery Clift entrou num processo de decadência física e profissional e morreu com 45 anos (1966). Tudo isto, a par de todo o resto, ajudou a sublinhar a obra-prima que é “The Misfits”.

Se estamos perante uma raridade? A mim parece-me que estamos perante um dos mais belos filmes de todos os tempos.


The Misfits, 1961
John Huston



12/07/09

Love Story


Ali MacGraw (Jennifer Cavalleri) & Oliver Barrett IV (Ryan O'Neal)


Uma das mais belas histórias de amor filmadas, uma das mais populares, ideal para rever num domingo à tarde. Ali MacGraw e Ryan O'Neal são um casal apaixonado. Comovente interpretação. Esta história de 1970, sobre o grande amor de uma vida, foi o filme de maior sucesso da Paramount até àquele época, recebeu sete nomeações para o Oscar (incluindo Melhor Filme, Actor e Actriz) e ganhou o Oscar pela música de Francis Lai. "Amar significa nunca ter de pedir desculpa".

Love Story, 1970, Arthur Hiller

...

Toda a acção é necessariamente mal conhecida. Para que não expressemos contradições de momento a momento, precisamos de uma máscara - como acontece se quisermos ser sedutores. Mas é preferível conviver com os que mentem conscientemente, porque esses também sabem ser verdadeiros conscientemente. Porque, a sinceridade habitual não passa de uma máscara, da qual não temos consciência.
Friedrich Nietzsche
'A Vontade de Poder'

09/07/09

código desconhecido

Não tenho escrito nada. Não tenho tido tempo. Adormeço cedo. Acordo cedo. Trabalho, mais trabalho, igualmente trabalho e quase só trabalho. Não posso afirmar isto, perigoso, mas afirmo, ainda assim. Se comento, ouço sempre o mesmo: ainda bem, estamos em tempo de crise. Pois, e alguém se queixa do excesso do trabalho por pesar, digo, os profissionais liberais? Não. Ou se sim não. Óbvio. Desabafos, meros desabafos. Isto é generalizado, não podemos comentar muita coisa. A conhecidos, ou desconhecidos. Tenho esta tendência, de falar, de escrever, de dizer o que bem me apetece, sobre mim; mas, também, de ouvir, de pensar, de respeitar os outros naquilo que falam e desabafam comigo. Sem moralismos, sem opinar se fazem ou não fazem bem, se têm ou não têm razão. Em frente aos visados, claro. Os pensamentos, esses podem voar. Os amigos, esses podemos, mas ainda assim só se pedirem. As pessoas, em regra, gostam de desabafar. Os outros, em regra, gostam de opinar. Se fosse eu! Absurdo. Incoerente. Não há códigos conhecidos. Nem desconhecidos. Só pensar em nós para respeitar os outros. Não ter medo. Sobretudo isso. Respeito e ausência de medo. Tudo brotaria muito melhor. Código desconhecido. As inconfidências são cada vez menos. Os desabafos, pior. Stop. A escrita, essa, há tantos outros assuntos.

04/07/09

Pina Bausch

Pina Bausch, 68 anos, morreu no dia 30 de Junho de 2009, vítima de cancro. "Cada vez que morre um criador, o mundo fica menos luminoso", afirmou Maria João Seixas, sua amiga. Sem mais palavras, aceito. Masurca Fogo foi a coreografia que fez para a Expo 98. Eu estive lá, mas não vi. Pena. Preciso de ir a Lisboa para assistir ao que não vem aqui ao Porto. Vou empurrar gente do Porto para minha companhia. Pina Bausch gostava de Lisboa, de ir a casas de fado e de se deitar tarde. Lisboa, li, fazia-a sorrir. Eu sorri sempre que a vi, nomeadamente, em Hable Con Ella de Pedro Almodóvar. Sempre com doses de melancolia (sou português). Sempre com emoções em catadupa. Sempre com muito riso e alegria embora às vezes não aparente. Pina Bausch ainda dançava.