Escreve-se quando há vontade de escrever. Eu, por “deformação profissional”, e não só, escrevo em catadupa, jorro palavras ao desbarato. Raramente corrijo o que escrevo, muito menos admoesto o que escrevo, só depois, se for possível, quase nunca é. E assim tem sido, e assim é, e as consequências, por aqui ou por outros flancos, chegarão. Tenho uma ideia, pego na caneta (bom, no teclado) e aí vai, o que sair saiu. É a intuição, mais do que a razão: nem sempre funciona, assim seja. Ora isto tem, obviamente, as suas contrariedades. Há quem goste, há quem pense que poderia ser mais cauteloso, há quem não goste e há quem pense, palermas, sei lá o quê. As consequências, aqui, serão os elogios (sim, também os há), os insultos (ok, aceito), as indirectas (nunca aceito, não gosto de gente mesquinha), a indiferença (é-me indiferente, quero acreditar), o despeito (pobres criaturas), o amuo (que se há-de fazer) e o mais quase nada. Nos outros flancos, confesso, já tinha confessado, faço o mesmo: penso, e desato a rabiscar e vai o que sair (ora, ora, e para onde vai, logo para aquela coisa, ligada ao juízo, na terra, de todos nós, os inúteis mortais – bom, muitas vezes é o que pensam aquelas excelsas, supremas, altíssimas criaturas que ocupam aqueles lugares – Nós (com letra maiúscula, o nós, claro) aqui, Deus no céu.
Isto tudo para quê?
A bem ou a mal, nós escrevemos, pensamos, aquilo que nos vai na real gana. Ora porque queremos atirar umas farpas, ora porque temos de o fazer pelas mais diversas circunstâncias, pelo trabalho, ora porque sim, porque temos o direito de pensar, de escrever, de opinar, mesmo que de uma forma patética. Agora, alguém achar, pensar, que não podemos escrever, opinar, dar erros, mandar foder o raio que os parta, só porque, alguém, daqueles que falei antes, os excelsos (gosto desta palavra) acham que não, que não deveríamos sequer ter a ousadia de o fazer! Dá vontade de rir, de mandar os magnificentes para a grande puta que os pariu. Não por palavras, não por actos, que isso seria excelso (e quem o quer ser a não ser os próprios?), mas sim por pena, com um sentimento de profunda pena por aqueles pobres iluminados. Engraçado pensar que julgam, opinam, sempre como se fosse o dia do Juízo Final.
Se não admoestamos o que escrevemos porque raio os pobres iluminados o têm de fazer?
Tenho a afirmar que no contexto referido há pessoas assim, parece-me; felizmente, tenho encontrado mais pessoas que não, que não se acham Deus, mas pessoas, homens, e como a maioria com temor de avaliar mal.