27/08/09

leituras

João Bénard da Costa trouxe-me "Muito lá de Casa” e confirmei as muitas coincidências entre os meus e o que eram o cinema, os actores e os realizadores dele. Pier Paolo Pasolini apresentou-me “Teorema” e fiquei a perceber que as pessoas (vida burguesa, imersa no vazio existencial …) que rodeavam a praia onde estava eram, aparentemente, muito parecidas com as personagens daquele livro (senti-me desconfortável, incomodado, Pasolini deixa sempre essa sensação de repulsa). De Chico Buarque D´Holanda li “Leite Derramado” e deambulei pela saga familiar, vista por um velho muito velho, caracterizada pela decadência social e económica ao longo de dois séculos da História do Brasil. Acompanhei Miguel Sousa Tavares numa viagem ao Sahara com a sua amiga Cláudia e fiquei admirado (sim, é essa a palavra) com a sensibilidade de Sousa Tavares, "No Teu Deserto, Quase Romance", no deserto dele, no deserto da amiga. "Caos Calmo" deu-me (ou está a dar-me, ainda não terminei) a perceber que muito o que se escreve sobre filmes, sobre as interpretações nos filmes, são puras invenções dos críticos. O livro é tão bom como o filme, Nanni Moretti não é o personagem principal, o personagem principal foi inventado pelo escritor Sandro Veronesi. As leituras de férias passaram ainda por uma vista de olhos a João Ubaldo Ribeiro, à Ilha de Itaparica, à história de Deoquinha Jegue Ruço casado com Benedita, em "Miséria e grandeza do amor de Benedita". E assim, entre outras coisas, se passaram as minhas melhores férias dos últimos anos. Deus é Brasileiro mas o Brasil é muito português.

24/08/09

Conversa Indiscreta

Acho piada à Alexandra Lencastre. Sempre achei, desde há anos atrás, desde a altura da Rua Sésamo. Acho piada ao conceito do programa Conversa Indiscreta, na TVI 24. A entrevistadora é Alexandra Lencastre. Já não acho tanta piada aos entrevistados, a alguns dos entrevistados. Os mais bizarros, execráveis mesmo, dos que assisti, foram o Diogo Infante e a Guta Moura Guedes (ficamos a saber que se chama Augusta Regina, ou qualquer coisa assim; bom, e as coisas que faz, ena, interessa-lhe tanta coisa). Diogo Infante falou de si, sobretudo como ele, homem, actor, encenador, director, como ele em tudo consegue ser tão bom, tão extraordinariamente bom, o que é uma chatice, isso de ter essa sina, a sina de ter nascido assim, bom, muito bom. Ponto final. Ele não precisa de conselhos. Ele dá-os sem autorização. Ele é extraordinário. Enfim, se não fosse como é gostaria de ser exactamente como se o fosse. Guta Moura Guedes interessa-lhe muita coisa, explica muita coisa, mas só diz banalidades, dá grandes explicações, essas, as explicações, que já quando éramos crianças as sabíamos. Ou seja, fala dela como se fosse outra pessoa. Ou seja, explica coisas sobre ela e sobre os outros de uma forma tão básica que é confrangedor. Ou seja, e melhor, tudo o que ela quer transmitir do que é como pessoa acaba por ser exactamente o oposto daquilo que está a mostrar ser. Quer ser muito e mostra que é muito pouco. Extraordinário país este, onde uma pessoa que diz o que o Diogo Infante diz (se o diz é porque é como o diz) é o Director Nacional do Teatro Nacional D. Maria II. Extraordinário país este, onde a Senhora Design não sabe dizer nada a não ser que é muita coisa. Ficamos sem saber o quê, em ambos os casos.
(eu voto na Odete Santos; a melhor entrevistada do programa)

21/08/09

regresso


Regressei há 3 dias. Feliz por estar aqui, feliz por tudo ter corrido tão bem. Feliz por estar calmo. Campo (o Alentejo do interior sempre presente), praia (a Prainha nunca me soube tão bem), leitura (vou escrever sobre ela), até filmes deu para ver. Algumas futilidades, inevitável, condenável, mea culpa, só minha. Ou culpa nenhuma. Desde que cheguei não tive tempo a mais a não ser para organizar assuntos. Isso também é bom. Muito bom. O regresso. Aqui estou, aqui vou continuar, aqui é onde me sinto bem. Voltei à Foz, ao desaguar de toda a minha existência. Já ouço o barulho do Farol todas as noites. Já vejo (e ouço) as ondas deste mar.

14/08/09

quase o regresso ...


Depois de algumas peripécias, nomeadamente, uma ida nocturna a uma clínica médica em Alvor, continuo nesta praia, naquela piscina. A praia é muito melhor, vou aproveitar estes últimos dias o melhor que puder. E ala que se faz tarde (embora em férias o tarde seja sempre cedo, ou vice-versa, ou o que importa), a caminho da praia e do "Caniço".

09/08/09

Raul Solnado

Raul Solnado marcou uma época de sucessivas gerações de artistas. O humor em Portugal foi influenciado por ele, lembro-me de Raul Solnado desde sempre, desde que me recordo como gente. Raul Solnado, ainda, era uma figura conhecida e querida de todos os Portugueses, habituamo-nos a conviver com ele. Vi-o uma vez, à entrada ou à saída de uma clínica na Póvoa de Varzim. E a figura simpática que via na televisão pareceu-me a mesma quando o vi pessoalmente. Pequeno, simpático, afável, agradável, uma pessoa cuja empatia é imediata. Parece-me justa a avaliação de todos os que têm vindo a falar dele, Raul Solnado vai ficar na memória e no coração dos Portugueses. E há tão poucos assim, aqueles verdadeiros artistas mas que são sobretudo grandes Homens. E o Raul Solnado parecia-me um grande Homem. São palavras e frases suaves, estas, as que escrevo. São palavras e frases adequadas a um grande artista Português, a um comediante (e muitas outras coisas) inigualável. São palavras suaves as que se devem dizer nestas alturas, as que mostram respeito, não palavras e adjectivos em demasia.



Raul Solnado
19 de Outubro de 1929 – 8 de Agosto de 2009