16/02/10

Um Amor de Perdição

Apesar das várias fragilidades, Um Amor de Perdição, Mário Barroso, 2009, é um filme supreendente, irascível e sem pudores. E eu gosto disso. Só por isso, e se não fosse por mais, valeu a pena, vale a pena, valerá a pena. Um filme onde se mostra um Simão Botelho sem medos, um adolescente que não reconhece a autoridade moral e a ética porque vive fora delas, a sua família não vive junta, vivem ao lado uns dos outros (com diz a sua irmã mais nova Rita Botelho). Trata-se de uma adaptação (muito livre) ou de uma inspiração do romance homónimo de Camilo Castelo Branco. O livro passa pelas mãos das personagens, anunciando o mesmo final trágico de Simão Botelho e de Teresa de Albuquerque de Camilo.

Nas palavras de Mário Barroso: "Simão é um adolescente quase criança, solitário, intransigente, narcisista, destrutivo e suicidário que atrai como uma aura fatal, uma luz negra, a maior parte das pessoas com quem se cruza. Mas Teresa existe, ou é apenas uma ideia, uma imagem, um reflexo? Teresa é uma aparição. Um pretexto para uma revolta amoral e violenta".

O filme, Um Amor de Perdição, embora uma adaptação (ou uma inspiração) muito livre do romance de Camilo, centra-se na personagem de Simão que tem os mesmos traços de personalidade dos do romance. As personagens do filme gravitam à sua volta, no livro também, a única que o compreende é a sua irmã mais nova, a que o apoia ainda é a sua mãe (excelente Ana Padrão). A diferença, sim ou não, é que mais do que uma história de amor trata-se de uma história de violência e de inconformismo. Simão amou, perdeu-se e morreu amando? Ou, existe apenas o seu desregramento, a sua destruição, o seu suicídio narcisista? A submissão é uma ignomínia. A ignomínia é uma indignidade. O que pode levar às maiores atrocidades. Como perdermos a alma, o que não é tão pouco. É só tudo o que não podemos perder.

1 comentário:

Márcia Luz disse...

Quando li o livro - e olha que tinha 23 anos - chorei tanto, tanto!...
Agora é apreciar o filme... quando chegar aqui.