06/12/09

The White Ribbon

" A saga lancinante de brutalidade e culpa colectiva, numa aldeia do Norte da Alemanha, vinte anos antes de Hitler ascender ao poder. O sítio é perturbado por actos aparentemente aleatórios de violência. Vemos a aldeia através de cinco famílias - as do barão, do seu mordomo, de um rendeiro, do médico da vila, do sacerdote - e através dos olhos do professor, vindo de fora. Tanto ele como nós percebemos rapidamente que as crianças estão a ser ensinadas a acreditar que o Céu as observa e que o Inferno as espera. Nesta aldeia, porém, o papel de Deus é muitas vezes assumido pelos austeros pais. Quando o pai descobre que o filho se masturba, mantêm-no de braços atados durante todas as noites. Uma vez, há um incêndio. O miúdo pede ao irmão mais novo para o libertar. Ele recusa-se: "O pai disse-me para não desatar". Se o espírito dos cúmplices alemães, durante o Terceiro Reich, pudesse ser definido numa frase, seria nesta."

Visão, 3 de Dezembro de 2009
The White Ribbon, Michael Haneke. Palma de Ouro Cannes 2009.
O filme estreia em Portugal a 7 de Janeiro de 2010. Lá estarei, claro.



Michael Haneke não é um cineasta para todos, infelizmente. O medo dá medo e ouço absurdos de que o medo, o terror, o mal-estar, causados pelos seus filmes não podem ser arte. Que é arrogância. Que se trata de exibicionismo. Discordo, em absoluto. Alguma, muita provocação, mas isso não é mau. Os filmes de Michael Haneke são sempre surpreendentes, estimulantes, duros, por isso e também deveras incitadores. Não são banais, estou cansado de coisas banais, coisinhas que não importam nada.


Alguns exemplos:
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Funny Games, versão 1997: A violência não acontece só nos filmes, o tipo de violência mostrada no filme é hoje (ou sempre foi) generalizada. Medo? Claro. As pessoas revêem-se na possibilidade de irem-se e passarem pelo mesmo.
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La Pianiste, 2001: Antes de mais, claro, Isabelle Huppert. Esta mulher deixa-nos sem fôlego, quase sempre. A mim, sempre. Depois, os mistérios da aparente normalidade e os segredos profundos que se guardam. Até onde nos levam as perversões não aparentes? A repressão impede-nos de muita coisa ou liberta-nos para os piores instintos.
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Caché, 2005: A culpa. Todos somos reféns dela, da angústia, do medo, do mal que podemos ter feito, do mal que fizemos e que queremos esquecer (a nossa consciência nem nos deixa a lembrança). A culpa persegue-nos, sempre.
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Code Inconnu, 2000: A raiva traz sempre consequências terríveis e inesperadas.

Uma forma de arte está obrigada a confrontar a realidade, a tentar encontrar um pequeno pedaço da verdade. Michael Haneke.

2 comentários:

Tiago Ramos disse...

Eu sou fã incondicional de Michael Haneke! Também tenho uma expectativa bastante elevada em relação a The White Ribbon!

toninho disse...

Embora tenha escrito tão pouco já estava com saudades disto. Não escrevo, mas leio. E leio o Split Screen. Abraço !