30/06/09

Paris, Texas


Aos dezoito anos vi, com uma grande amiga, pelo menos a que sentiu as mesmas minhas emoções, as três cenas do filme Paris, Texas, as que ficam aqui registadas. É o filme das nossas vidas, o meu e o dela, desde esses nossos dezoito anos. Nenhum filme, até ao momento, a mim, me causou tanta emoção ao sair de um cinema, o Charlot, hoje inexistente. Viemos a cambalear, os dois, tamanha a emoção, por aquele cinema abaixo, no fim do filme. Claro, eu já estava apaixonado pela Nastassja Kinski. Claro, ficamos esgotados com a actriz (eu), com o deserto, com a música, com os silêncios, com a solidão daqueles grandes espaços desérticos, absolutamente áridos, filmados por Wim Wenders. Por tudo ! Nunca mais fez um filme assim, o realizador. Também, não é fácil chegar tão longe. Aqui fica um bombardeamento de imagens e cenas do filme. Lembras-te?

first cabin scene

second cabin scene and the end





28/06/09

As tears go by

Mick Jagger/Keith Richards
Vanessa Paradis

eu e os outros, os outros e eu

Comovi-me. Sim, não é difícil, a emoção apoderou-se mais uma vez. Falei com várias pessoas, daquelas que vão de um extremo ao outro. Tudo começou num bar da moda, gente politicamente correcta, gente com aparência de tudo aquilo que quer parecer o que não é. Hollywood de Portugal. Na pior das hipóteses. Ironias à parte. Gente, aparência, mau gosto, bom gosto, aragem, tudo com o parecer que tudo é assim que deve ser mas nada deve ser como aquilo. Incongruências. Incertezas. Deles, não minhas. Inconfidências, essas minhas. Não sou quem deveria estar ali, a minha imagem correspondia, a cabeça não. Depois saí, cansei-me, decidi aceder a um convite feito há muitos tempos. Há tempos demais, nunca acedi, o meu mundo também não é aquele. Mas acedi. Fui. E fui muito bem tratado, bem mais tratado do que noutro sítio qualquer. Gente genuína, gente com emoção, gente com coração. E isso é tão importante. Isso, das boas pessoas, da boa gente, mesmo que não seja gente como nós, como eu, mas gente com coração. E, por mais trivial, gosto disso. Aqui foi o oposto. Ou seja, a minha imagem não correspondia, a cabeça era emoção. Vou ter de filmar estas coisas, o tempo ainda dá tempo. O tempo dá sempre tempo. Se soubermos e se quisermos. E quero, claro. Nada mais, pouca coisa mais, mas senti-me livre. Livre e com vontade de parecer aquilo que realmente quero ser. Verdadeiro. Honesto. Leal. E são essas coisas que me fazem respirar. Essas e as que tenho em casa. E nada é incompatível desde que tudo seja como no poema da Sophia de Mello Breyner Andresen. Eu e os outros. Os outros e eu. Afinal, tudo tão simples.

27/06/09

...


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen

26/06/09

Michael Jackson & Farrah Fawcett



Não há belas, nem monstros, há estrelas, há pessoas, o Rei da Pop (não há como ele) e a eterna Anjo de Charlie (a mais bela das três). Momentos da minha juventude. Pessoas que passaram pelas nossas vidas e nelas permanecem pela sua aura e pelo seu legado. Não há mais ou menos estrelas. Só pessoas. Estas morreram no mesmo dia: 25 de Junho de 2009. Ficam bem aqui, juntos. Michael Jackson ! 2 de Agosto de 1958 - 25 de Junho de 2009. Farrah Fawcett ! 2 de Fevereiro de 1947 - 25 de Junho de 2009. E como a vida real é sempre mais sinistra do que as histórias dos filmes, apetece-me rever Love Story ! Where do I Begin ?

24/06/09

São João




Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João. Porque há S. João onde o festejam. Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.
Noite de São João
Alberto Caeiro

16/06/09

A Streetcar Named Desire

Há três peças de teatro, adaptadas ao cinema, do dramaturgo americano Tennessee Williams, absolutas obras-primas. Há outras, mas lembro-me especialmente destas três: “Um Eléctrico Chamado Desejo” (Elia kazan, 1951); “Gata em Telhado de Zinco Quente” (Richard Brooks, 1958); “Subitamente, no Verão Passado” (Joseph L. Mankiewicz, 1959). Todas estas peças de teatro foram transpostas para o cinema por grandes realizadores, génios na realização e na direcção de actores - especialmente, quanto a este último aspecto, Elia kazan, fundador, juntamente com Robert Lewis e Cheryl Crawford , do famoso Actors Studio. Todas estas peças abordam questões como a homossexualidade, o canibalismo, a castração, o desejo sexual, a frustração, o impulso animal do homem/mulher, homem/homem, como objecto de desejo e na maioria das vezes desilusão. Recalcamentos, resistência a sentimentos profundos que levam à morte ou à loucura. Nos filmes foram impostos cortes profundos em vigor no cinema americano da época, ainda hoje. Estas questões não podiam ser desenvolvidas de forma explicita. Importante, se queremos perceber bem os filmes, sem paternalismos ou arrogância intelectual, a leitura das peças, embora tudo esteja nos filmes de uma forma muito subtil. Ora, ontem, revi “Um Eléctrico Chamado Desejo”. Não é, dos três referidos, o meu preferido. “Bruscamente, no Verão Passado” é a obra-prima destas três obras-primas. Mas é um grande filme. Antes, uma grande peça de teatro pois Elia kazan não se preocupou na realização de um filme mas na transposição para o cinema de um espaço cénico. Nessa sequência, o papel primordial dos actores, da interpretação dos actores que encarnam cada uma das personagens, dos actores principais aos secundários. Por isso, a chuva de Óscares (ou nomeações para) nas interpretações principais e secundárias. A peça, o filme, desenrola-se em Nova Orleães e centra-se na personagem Blanche DuBois, vulnerável, instável, romântica, uma mulher que terá sido belíssima noutra época (sabemos que sim), em declínio, altamente vulnerável e abalada emocionalmente, profundamente abalada - Vivien Leigh sublime! Ela visita a sua irmã Stella Kowalski, casada com Stanley Kowalski, um homem rude, básico, bruto, suado, agreste, selvagem - brutal e devastador Marlon Brando! Um total confronto de personalidades, um ódio mútuo e recíproco. Aparentemente. Não é evidente a atracção física e sexual entre Blanche DuBois e Stanley Kowalski mas ela está implícita em todas as cenas. Mesmo que de maneira pouco clara (ou não). Está na peça, a censura mandou retirar. Com o desenrolar da acção percebemos que o passado de Blanche DuBois não é exactamente o que parece e intuimos que algo de trágico se vai passar. Intensa e arrebatadora, a empatia do público com a personagem Blanche DuBois vai aumentando à medida que percebemos que é uma mulher perdida e sofredora. Vítima de muitos homens, vítima de Stanley Kowalski, vítima de uma sociedade repressora, moralista e hipócrita, vitima dos outros, vitima de si própria. “Eu sempre dependi da bondade de desconhecidos”, diz Blanche DuBois. E estas coisas não mudam, são muito mais os desconhecidos que trazem bondade do que as pessoas que nos adulam. Nunca podemos depender da bondade de estranhos, sequer da bondade dos amigos ou de quaisquer outros. Mais vale dá-la. Sempre nos tornamos melhores.


A Streetcar Named Desire, 1951
Elia Kazan

11/06/09

Milk

O que ocorre desde logo, depois de ver Milk, são os nomes de Sean Penn e de Gus Van Sant. Sean Penn, actor, excelente, muita flama. Emoção. Muita emoção. Esquecemo-nos quem é, interiorizamos logo o homem que interpreta, Harvey Milk, isso chama-se ser actor, extraordinário actor. Gus Van Sant, realizador, exactidão, força, energia, excelência na forma, contéudo, narrativa. Fulgor desde o inicio ao fim e o fim não é assim tão próximo. São 130 minutos de filme a contar a história do primeiro homem assumidamente gay a ser eleito num cargo público na Califórnia. Mais do que a defesa do direito dos homossexuais assistimos no filme à defesa de direitos humanos, das minorias, dos afastados do convencional. E são filmes como este, interpretações como esta, histórias como esta, que nos ajudam a crescer mais e melhor, que nos ajudam a tornarmo-nos homens com algumas qualidades. Como diz Harvey Milk : “(…) sem esperança os excluídos desistem. E eu sei que não se vive apenas de esperança, mas sem esperança não vale a pena viver (…)”. Subscrevo. Obra-prima? Sim, é. E já não é a primeira de Gus Van San (Elephant, 2003). E também já não foi o primeiro Oscar de Sean Penn ( Mystic River, 2003, Clint Eastwood). Aqui não há coincidências. Há talento.
Milk, 2008
Gus Van Sant

07/06/09

B.

Hoje faz anos a pessoa mais importante da minha vida. Parabéns B.! Aqui fica, eu fico contigo para sempre. Pais e filhos, por mais diferentes, ou por tão parecidos, o amor é (para mim) incomensurável.

Steven Tyler & Liv Tyler




03/06/09

Klaus Kinski & Nastassja Kinski






...

Os brasileiros artistas são muito bons. Os outros também. Os brasileiros em Portugal são hoje ostracizados, como nós, portugueses, há muitos anos atrás, no Brasil. Hoje tratei de um desses casos, brasileiro/português em conflito laboral. Aliás, são vários e vários os casos, assim, mas este despertou-me (desperta-me) especial interesse. A troca de galhardetes entre brasileiro/português foi bem à medida. O português mais do que educado, educadíssimo, o brasileiro rude e favelado. Sem ofensa. Como João Ubaldo Ribeiro,Viva o Povo Brasileiro! Sem ofensa, estou do lado do português. Não por questões xenófobas mas por questões éticas. O brasileiro da favela não pode chegar aqui e desatar a insultar os lusitanos. O brasileiro sem ser da favela não pode chegar aqui e gritar Adoro Portugal, Portugal é Lindo. Chega. Patrícia Melo, grande escritora brasileira, retrata bem a realidade da Cidade Maravilhosa. É a Cidade Maravilhosa mas é também a cidade de todas as corrupções e arrioscas. Gosto do Rio. O Rio de Janeiro é mesmo a cidade mais bela do mundo. Gosto de Portugal, está no meu sangue. Viva o Povo Lusitano. Sem ofensa, sou português. Caetano Veloso e Cássia Eller. Sente-se o Brasil. Um pouco de malandragem, sim, Cazuza, autor da letra e música.