30/03/09

cansado mas feliz

Um pouco cansado. Nada que não se resolva com uma semana de férias em terras algarvias que, espero, venha com muito sol. Um pouco cansado, ainda, se pensar que entre os dois filmes infra passaram 25 anos. Lembro-me tão bem de ver Rumble Fish no cinema. Como se fosse hoje. O preto e branco e os peixes vermelhos no aquário a destacarem-se do cinzento. Era tão novo. Tantos projectos. Tantos sonhos. Ao mesmo tempo, tanta afinidade com a juventude inquieta do filme (ainda hoje). Por outro lado, sinto-me mais do que feliz. Nunca pensei em 25 anos conseguir tanta coisa, realizar tanta coisa, que há 25 anos atrás não passavam de puros e pueris sonhos. Cansado mas feliz. Não é nada mau. Irrequieto, inquieto, rebelde, travesso, sempre. Pelo menos que seja com causa. E uma causa justa. Ou várias causas justas. Um pouco cansado mas feliz. Não é nada mau.

29/03/09

1983 - 2008







Mickey Rourke

The Wrestler é um filme que vale sobretudo pelo actor. E é uma interpretação da personagem Randy Robinson "The Ram" e do próprio Mickey Rourke no seu próprio papel. Uma mistura de ficção e de realidade indirecta, interpretado com muita emoção e com muita dignidade. Mickey Rourke não é o actor em The Wrestler. É mesmo o seu objecto. Usam-no, abusam-no, ele permite e fá-lo com muita honra e decência. É isso é bonito. E isso está bonito. O que seria de cada um de nós se caíssemos num poço sem fundo, no absoluto abismo? Será que vamos sempre a tempo de nos reconstruirmos? Será que o mergulho seguinte (como na última cena do filme) rumará em geral a bom porto? Será que podemos contrariar opções alheias? Será que podemos zombar da fotografia que acompanha este texto? O filme não dá resposta. A vida encarrega-se disso. Marisa Tomei também brilha.

The Wrestler, 2008
Darren Aronofsky

27/03/09

Gran Torino

Afirmar que acabei de assistir a uma obra-prima é pouco.
Afirmar que acabei de assistir a pura poesia, ainda é menos.
Afirmar o que quer que seja sobre este filme é muito escasso.
Límpido, complexo, uma sensação que ultrapassa quaisquer palavras, uma reflexão sobre nós, os diferentes de nós, num país que não é o nosso (E.U.A) mas que caminha para o mesmo (a xenofobia é doente, as diferenças são difíceis, o pior é lutar contra as nossas próprias contrariedades).
Li para espalhar aos ventos que é uma obra-prima. Prefiro espalhar aos ventos que a última parte do filme e o genérico final são arrebatadores, o melhor que vi em toda a minha vida no cinema. E espalho a quem isto ler que este filme não se pode perder. Sem termo. E já. Ouço a música. Embalar e redimir todos os nossos pecados (os nossos, os dos outros?) da forma a que assisti não é para qualquer um. Clint Eastwood leva-nos sempre tão longe. Longe demais.

Gran Torino, 2008
Clint Eastwood

24/03/09

pós, mós, e após

Momento infantil.
Estima.
Pós, de pós-graduação.
Mós, de camaradagem.
Após, amizade.
Acho que tivemos sorte, num momento das nossas vidas, e com idades tão diferentes, encontrarmos pessoas que se entenderam tão bem. Um abraço a todos os meus amigos da Pós. Eis a filha de um desses amigos (a mais pequenina). Nas lojas
Girandola, por esse país além e pelo estrangeiro. Parabéns!

23/03/09

...

E se tivessem de dar uma aula num curso de pós-graduação daqui a 45 minutos e ainda não estivesse preparada a aula? Morte súbita? Irresponsabilidade? Nem uma, nem outra. Ou as duas. A experiência e a idade trazem mais tranquilidade. Entre outras coisas, e se ela não preferir rapazes/homens mais novos, La Belle Noiseuse. Não é Ursdens?
Nova data adicional:
A aula correu muito bem, a idade ajuda sempre, mas la belle não estava, nem nenhuma outra. Nem tudo corre a sério bem. Pois é.

22/03/09

Emmanuelle Béart

As francesas são tão ...
Esta é a actriz ideal para qualquer papel. Elle est La Belle Noiseuse .
Nota adicional após comentários:
incluindo o/no/para ..., o meu papel.


19/03/09

ao entarceder



Natasha Jane Richardson
Nascimento: 11 de Maio de 1963, London, England, UK

Falecimento: 18 de Março de 2009, New York City, New York, USA

Num dos meus serões cinema/dvd/blockbuster vi o filme Evening. Não era um grande filme, escolhi-o sobretudo pelas actrizes. A cena aqui ao lado é a de uma filha a acompanhar a mãe no seu leito de morte. Duas extraordinárias actrizes, mãe e filha no filme, mãe e filha na vida real. Vanessa Redgrave e Natasha Richardson. E o filme valeu sobretudo por isso e por outra cena com a Meryl Streep (a despedir-se da amiga que morria). Ah, quase me esquecia de Glenn Close ... (a chorar a morte de um filho). Vi os extras e ouvi as duas actrizes expressarem o quão felizes estavam por terem feito num filme o mesmo papel que lhes cabia na vida real. Contudo, ontem, na vida real, inverteram-se o papéis e foi a mãe que assistiu à morte da filha. Posso garantir, seguramente, com todas as minhas forças, que não deve existir sofrimento maior que uma mãe assistir à morte da sua filha. A minha também assistiu. Eu sei. É uma tristeza infinita - perdura para sempre.

18/03/09

Bibi Anderson e Liv Ullman

A beleza é intemporal.
Ingmar Bergman, sempre. Pedro Almodóvar, muitas e muitas vezes.
As mulheres de Amodóvar não são melhores do que as de Bergman. Só diferentes. Como é que é possível gostar de duas realidades tão diferentes? É possível, claro. Tudo se resume à inteligência. A beleza é tão fugaz. Abstracto, abstracta, eis uma palavra que aprecio.

15/03/09

Burn After Reading

"Destruir Depois de Ler", uma tragicomédia sobre pessoas de meia-idade, um filme com os amigos, como referem os Irmãos Coen. Uma história divertida, com os actores a fazerem de mentecaptos, totalmente imbecis, rufias e outras coisas que mais. George Clooney (que só vê sexo à frente), Frances McDormand (que se não faz umas tantas plásticas vai explodir), Tilda Swinton (a médica traidora e traída), John Malkovich e Brad Pitt – estes dois hilariantes, completamente idiotas, extremamente divertidos. O Brad Pitt está super divertido, super idiota, até quando apanha um balázio na testa. O John Malkovich deve ter rompido as cordas vocais com tantos berros. Os Irmãos Coen são brilhantes, gozam literalmente com tudo e todos. Os actores permitem-no e parodiam (ou deixam que parodiem) sobre eles próprios. Brilhante, deste ponto de vista. Se não gozamos com a nossa própria pessoa estamos muito longe do equilibro. Ou então completamente loucos. E sem uma boa mistura de equilibrio e loucura resta pouco. Uma comédia sobre pessoas completamente estúpidas. E há tantas por aí. A inteligência é relativa? Concordo. Ou talvez não.
Burn After Reading, 2008
Ethan Coen e Joel Coen

14/03/09

"Los abrazos rotos"

Mal posso esperar!

Que pareja !

Que Colectivo !

Penelope Cruz, Lola Duenas, Angela Molina, Blanca Portillo, Lluis Homar, Jose Luis Gomez, Ruben Ochandiano, Darya Mishchenko, Tamar Novas, Dani Martin, Carmen Machi, Rossy de Palma, Carlos Leal Pedro Almodovar...

11/03/09

...


Há alguns anos atrás, treze anos, em Janeiro de 1996, num mês e ano muito especiais da minha vida, vagueava eu pela Espanha profunda, encontrei, entre outros, os primeiros filmes de Penélope Cruz, que comprei e guardo (em VHS). Foram dois:


Jamón, jamón, Bigas Luna (1992)

Belle époque, Fernando Tueba (1992)



Gostei dos dois, na época, ainda gosto, e gostei da referência a Bigas Luna e Fernando Trueba no discurso infra. Pedro Almodóvar, claro, também tinha de ser citado. Esta mulher não é bela, vai para além disso, é portentosa. Gosto de gente assim. Como El Toro Andaluz. Preto e Vermelho. El Toro e Penélope. Olé !

Olé !

This is not going to be 45 seconds, I can say that right now. Has anybody ever fainted here? Because I might be the first one. Thank you so much to the Academy. I want to share this with my fellow nominees and with the amazing ensemble of actors that I had the privilege to work with in this movie. Thank you, Woody, for trusting me with this beautiful character. Thank for you having written over all these years some of the greatest characters for women. And I cannot talk about great female characters without thanking my friend Pedro Almodóvar for having made me part of so many of his adventures. Thank you, Bigas Luna, Fernando Trueba, for giving me my first movies. Thank you, Harvey Weinstein. I wanted to dedicate this to my parents and to my brother and sister, to my friend Robert Garlock, who is not with us anymore, and to everyone who has helped me from the beginning and you know who you are and I thank you from my heart. I grew up in a place called Alcobendas, where this was not a very realistic dream. And I, always on the night of the Academy Awards, I stay up to watch the show and I always felt that this was, this ceremony was a moment of unity for the world because art, in any form, is and has been and will always be our universal language and we should do everything we can, everything we can, to protect its survival. So I thank you so much and I have to say something in Spanish, because everyone: Todos los que desde España ahora estén compartiendo este momento conmigo y sientan que esto también es de ellos, se los dedico. Y a todos los actores de mi país. Muchisimas gracias.

09/03/09

The Reader

Li esta crítica no "Público". Não podia estar mais de acordo! O filme não me larga, desde ontem à noite. E isso não é mau, é até muito revelador. Há tão poucos filmes que nos deixam a pensar. Há tantos mais outros descartáveis. Neste, há poesia, conta-se uma história, absorve-nos o pensamento, sente-se uma tristeza infinita. A moral e a justiça. Conceitos tão indeterminados. As audiências de julgamento são tão herméticas, tão absurdamente factuais. O Direito, a Justiça, a Moral, conceitos tão indispensáveis na minha vida. Cada vez mais sinto que estou na profissão certa! Falta só o cinema. Mas há-de chegar. Kate Winslet: portentosa. How far would you go to protect a secret?
The Reader, 2008
Stephen Daldry

08/03/09

Slumdog Millionaire

Ontem vi Slumdog Millionaire. No fim, não por acaso, não soube reflectir sobre o filme tão atordoado estava com sucessão de cenas/versão alucinante, sequência de video clip, a extraordinária banda sonora, uma certa incerteza se o filme respeitava as personagens, as situações, os bairros de lata de Bombaim, a Índia, ou, se pelo contrário, apenas pretendia retirar benefício daquelas crianças miseráveis, da extrema pobreza, da miséria humana, instrumentalização de todos esses clichés (ou dessa realidade) para seduzir Hollywood, o mundo, tendo como fim máximo prémios e mais prémios, milhões e mais milhões, como no concurso que estava a ser filmado. Senti que o filme não era honesto. Senti que a emoção foi construída e não vivida e filmada com entrega. Senti, isso hoje, alguma repugnância por toda essa mistura e por não ter acreditado que o filme foi feito com alma mas apenas com um objectivo especifico: prémios, dinheiro, muito mais do que os dois milhões de rupias - o prémio conseguido por Jamal K. Malik. A outro nível, parece-me, até, que toda a história contada se assemelharia (impressões) à carreira comercial e aos milhões pretendidos pelas imagens filmadas. Nada de muito censurável mas que soa a enganador. Um filme ou um objecto a rentabilizar? Além disso, a mistura Hollywood/Bollywood raiou o caricato. As imagens finais, esteticamente atraentes/repulsivas, poderiam ser imagens iguais aos milhões de filmes feitos em Bollywood. A realidade a que assistimos em Slumdog Millionaire poderia ser um desses filmes de Bollywood, com mais crueza, um pouco mais de introspecção, onde os heróis ultrapassam tudo depois de sofrerem todos os males do mundo. No meio disto tudo, lembrei-me de Cidade de Deus (Fernando Meireles, 2002) e de Oliver Twist (Roman Polanski, 2005). Podemos comparar Slumdog Millionaire a Cidade de Deus, a mesma estética, o mesmo frenesim, o mesmo ritmo alucinante, as favelas em diferentes locais do mundo? Podemos comparar Slumdog Millionaire a Oliver Twist, ao universo de Charles Dickens, ao relato das aventuras e desventuras de um rapaz órfão nas miseráveis ruas de Londres do século XIX? Ou seja, a suposta originalidade de Slumdog Millionaire não é mais do que um verdadeiro aproveitamento da miséria – onde o triunfo da bondade prevalecerá sempre contra todas as adversidades? Como em Cidade de Deus, mas este com mais emoção e mais honestidade. Como em Oliver Twist, mas este com mais pureza e muita mais bondade. Ou seja, Slumdog Millionaire pareceu-me um filme bem mais convencional do que à partida pretendia. Ou seja, é um filme bem menos conseguido do que à primeira impressão aparenta. Ou seja, concluindo, é um filme aparentemente enganador. No fim do filme estamos atordoados com a estética e a miséria que nos impuseram. A seguir, uma sensação de déjà vu e uma certa repugnância porque o objectivo do filme parece ser o mesmo dos maus e cruéis que perseguem as pobres crianças na miséria de Bombaim. E sem poesia, como em Oliver Twist. E sem emoção, como em Cidade de Deus. Um filme aparentemente (repito) enganador e desonesto. Contudo, um filme a ver. Sem brilho. Sem inspiração. Ou uma inspiração meramente aparente. Impressões, impressões aparentes. Ontem gostei. Hoje, nem por isso.

Slumdog Millionaire, 2008
Danny Boyle

07/03/09

Vicky Cristina Barcelona

Salero, tesão, sangue, sexo, Barcelona, Gaudi, Oviedo, telas, tinta, guitarra, música, amor, tudo junto, mais Penélope Cruz, Scarlett Johansson, Rebecca Hall e Javier Bardem. Woddy Allen mistura tudo, com muita graça, muita pinta, muita emoção. As personagens, como em todos os filmes de Woddy Allen, questionam as suas vidas, reflectem, ponderam, tudo num tom de comédia que nunca cansa. Cada vez mais original, mais inventivo, mais jovem. Woody Allen nunca repete estando sempre a repetir-se. Difícil, mas assim. Fácil, os sucessivos filmes e as histórias brotam sem mais. Só são românticos os amores impossíveis ou condenados ao fracasso ? Se calhar. A mim parece-me romântico, sedutor, e altamente erótico. Salero e Tesão. Uma mistura explosiva.
Vicky Cristina Barcelona, 2008
Woody Allen

Doubt

Simples, complexo, brilhantes interpretações (Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Viola Davis), Doubt deixa-nos na eterna incerteza sobre os actos ou as omissões dos outros. Por minha culpa, minha tão grande culpa. Sem provas, não podemos condenar ninguém. A dúvida não nos permite. Com provas, condena-se. A dúvida ainda assim permanece. Merecerão os outros a absolvição de todos os seus pecados? Mereceremos nós a expiação de todos os nossos? In dubio pro reo. Eu cá tenho uma grande dúvida: a Meryl Streep é real ?
"A única coisa a recear é o próprio receio" Roosevelt
Doubt, 2008
John Patrick Shanley

04/03/09

vidas

Impressionante. As pessoas ouvem-se cada vez menos e falam cada vez mais. Conversamos, opinamos, e estamos tão preocupados em impor o nosso ponto de vista que a opinião dos outros não nos interessa muito, quase nada. É até indício de menosprezo, se é diferente da nossa opinião. É até sinal de ofensa, se insistimos na nossa opinião sobre um determinado assunto e o outro não concorda. Caímos nos mesmos erros, sucessivamente, prometendo que para a próxima a atenção será outra, será uma atenção mais atenta. Mas não, na próxima insistimos na nossa opinião e desvalorizamos a opinião dos outros. Isto é mau, muito mau, tolhe-nos, a nós, mais do que aos outros. Não estar atento é sinal de pouca inteligência. Não ouvir é sinal que sabemos muito pouco e não estamos interessados em aprender muito mais.

Numa reunião de família, por exemplo, todas as pessoas com vidas e interesses diferentes, mas laços fortes de sangue, de amizade, de amor. Ninguém se ouve, ou poucos ouvem, a maioria tenta freneticamente explicar aos outros que as opções deles são melhores do que a dos outros e que se os outros não fazem como eles é porque não estão a ver bem a coisa. O silêncio, em mim, ou a ausência de contra argumentação nestas situações tomam-me cada vez mais. Berrar, discutir, contra argumentar, para quê? A minha vida não é melhor do que a tua vida mas se eu quisesse ter uma vida como a vida que tu escolheste mudaria de vida e passaria a não ter vida porque não seria a que escolhi. A nossa vida, a vida dos outros, as nossas opções de vida, as opções de vida dos outros, não são melhores ou piores. São só as nossas. A vida como ela é! Esta última frase faz-me lembrar o grande dramaturgo, jornalista e escritor brasileiro Nélson Rodrigues (que muito aprecio). Um pequeno plágio, seja. E viva a diferença!


02/03/09

Natalie Portman

A minha cabeça anda a mil. E ando distraído. Além de descobrir que esta mulher é israelita descobri que era a miúda (Matilda) de onze anos do filme Léon de Luc Besson. Há crianças que crescem muito bem! Entrou mesmo a matar.

...

Reparo agora que não tenho escrito nada nos últimos tempos. Falta de tempo ou falta de pachorra? Uma mistura de ambos, com uma boa dose de preguiça mental. E parabéns ao Quinze que faz anos hoje! Daqui a nada dou-lhe os parabéns pessoalmente no recital do meu herói. Ah pois! E que dias estes tão atordoados.

recital no colégio ...

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
Alberto Caeiro